MARE participa em projeto inovador de aquacultura sustentável

Produzir douradas, robalos, macroalgas e pepinos-do-mar num só sistema de aquacultura é o grande objetivo do Aquadiversify, projeto que arrancou recentemente nas instalações da Pescalgarve – Piscicultura do Vale da Lama, na Ria de Alvor. Com um investimento de cerca de 1,5 milhões de euros, esta iniciativa pioneira quer demonstrar que é possível produzir mais, com menos impacto ambiental, num modelo circular e sustentável. 

É a primeira vez em Portugal que se testa, num mesmo tanque, a integração de três níveis tróficos: peixes no topo (douradas Sparus aurata e robalos Dicentrarchus labrax), macroalgas na coluna de água e pepinos-do-mar (Holothuria arguinensis) no fundo. Os peixes alimentam-se de rações enriquecidas com algas, as macroalgas removem nutrientes em excesso e sequestram dióxido de carbono, e os pepinos-do-mar tratam os sedimentos ao transformarem matéria orgânica acumulada em substrato limpo.

“Esperamos conseguir desenvolver um modelo de produção único, em que se produzem de forma integrada várias espécies compatíveis entre si, que se potenciam em termos de qualidade dos produtos finais, e que seja mais sustentável em termos ecológicos e económicos para a empresa promotora”, afirma Ana Pombo, investigadora principal do MARE no projeto.

O projeto assume-se como um verdadeiro laboratório vivo, ancorado numa infraestrutura de aquacultura tradicional, mas com ambição de testar práticas inovadoras e replicáveis. “Os principais desafios relacionam-se com a integração dos vários níveis tróficos em contexto real, em escala piloto, na empresa Piscicultura Vale da Lama”, explica Ana Pombo.

As macroalgas em estudo incluem espécies como Ulva spp., Gracilaria spp. e Saccharina latissima, amplamente reconhecidas pelas suas propriedades biofiltrantes e potencial de valorização em setores como a alimentação humana, cosmética e biofertilizantes. Já os pepinos-do-mar serão também reproduzidos em escala, o que pode ajudar a recuperar uma espécie de elevado valor económico e em forte declínio nas populações selvagens.
O MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente participa através das suas unidades no Politécnico de Leiria (MARE-IPL) e na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (MARE-ULisboa). Para além de Ana Pombo, a equipa científica é composta por João Sousa, Pedro Santos, Sílvia Lourenço, Marta Neves, Teresa Mouga, Clélia Afonso, Pedro Félix e Francisco Azevedo e Silva.

“Somos responsáveis pela produção de juvenis, pela otimização do desenvolvimento larvar e por ensaios em regime multitrófico”, refere Pedro Félix. “Também participamos na tarefa final de integrar diferentes níveis tróficos no mesmo tanque, em condições reais de produção, o que torna este projeto especialmente desafiante.”

O projeto é liderado pela Pescalgarve e conta ainda com a participação do GreenCoLab – Laboratório Colaborativo para o Desenvolvimento de Tecnologias e Produtos Verdes do Oceano e o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve (CCMAR). Ao longo dos próximos três anos, o consórcio vai testar, ajustar e validar este novo modelo de produção. 

O Aquadiversify é cofinanciado pelo Programa Inovação e Transição Digital – COMPETE 2030, pelos programas regionais Centro 2030 e Algarve 2030, e pela União Europeia.

 

Texto de Vera Sequeira
Fotografia de capa de Leonardo Vieira