Num momento em que a escassez de água se torna uma preocupação crescente a nível global, a investigação de Rita Dias, oferece uma nova perspectiva sobre o tratamento de águas residuais. O seu trabalho inovador, focado na remoção de hormonas esteroides das águas residuais, foi o destaque da edição do mês de junho da revista GreenSavers, apontando um caminho mais sustentável e eficientes para um recurso cada vez mais escasso e valioso. 
Em novembro do ano passado, Rita Dias defendeu a sua tese de doutoramento, um estudo pioneiro sobre como remover substâncias químicas perigosas – especificamente hormonas esteroides como o etinilestradiol, o estradiol e a estrona – das águas residuais. Estas hormonas, encontradas em pílulas contraceptivas e terapias hormonais, têm um impacto devastador na biodiversidade aquática, alterando o sistema endócrino dos peixes e de outros organismos, afetando o seu desenvolvimento e fertilidade. Além de afetarem a fauna aquática, estas substâncias representam uma ameaça à saúde humana, uma vez que podem acumular-se na cadeia alimentar, atingindo concentrações perigosas nos peixes que consumimos.
No seu estudo, a investigadora do MARE Rita Dias explora dois métodos promissores para a remoção destas hormonas: a reutilização de lamas provenientes das estações de tratamento de água (ETAs) e o uso de ácido peracético, um reagente ambientalmente mais seguro.
A primeira abordagem foca-se na utilização das lamas – resíduos gerados nas ETAs durante o tratamento das águas residuais. Em vez de serem descartadas, estas lamas podem ser reutilizadas para remover poluentes, incluindo as hormonas esteroides. Esta solução circular não só reduz os custos operacionais, como também mitiga os impactos ambientais associados à gestão dos resíduos das ETAs.
O segundo método estudado envolve o uso de ácido peracético, um desinfetante eficaz e menos agressivo para os ecossistemas aquáticos em comparação com o cloro. Este método poderia ser implementado nas ETAR já existentes, com um impacto ambiental reduzido e sem a necessidade de grandes investimentos em novas infraestruturas.
A reutilização de águas residuais tratadas, com qualidade adequada para fins não potáveis, é outra área de foco da investigação de Rita Dias. Em Portugal, apenas 1,2% das águas residuais tratadas são reutilizadas. A otimização do tratamento dessas águas pode aliviar a pressão sobre os recursos hídricos, reservando a água de maior qualidade exclusivamente para o consumo humano. A abordagem de Rita Dias, ao focar na segurança e na eficiência dos métodos de tratamento, contribui para uma gestão mais inteligente e sustentável da água.
Para além disto, o trabalho da investigadora do MARE, é um passo importante para a criação de processos mais sustentáveis e eficazes, capazes de responder aos desafios da atualidade. A sua investigação abre novos caminhos para um futuro em que a água é tratada com mais responsabilidade e eficiência, ajudando a preservar os ecossistemas aquáticos e a garantir que as gerações futuras possam continuar a contar com este recurso vital.