Uma investigação publicada hoje na revista científica Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, resultante de uma colaboração entre o MARE em CIÊNCIAS, o Centre for Functional Ecology (Universidade de Coimbra) e o Swire Institute of Marine Science (Universidade de Hong Kong, RAE de Hong Kong), destaca as respostas do sepiólideo havaiano Euprymna scolopes à acidificação e ao aquecimento dos oceanos durante o desenvolvimento embrionário, a nível molecular. 
Tal como os pirilampos, os sepiolídeos são capazes de bioluminescência (produção de luz). Este pequeno molusco cefalópode, que habita zonas arenosas costeiras, adquire as bactérias luminosas nas primeiras horas após a eclosão, hospedando a colónia num “órgão luminoso” especializado. Uma vez colonizados, os animais utilizam a luz produzida pelas bactérias como camuflagem noturna (contra-iluminação). Embora tenhamos um vasto conhecimento sobre a relação do animal com o seu simbionte bacteriano em condições laboratoriais padrão, os efeitos dos fatores de stress ambiental sobre o animal continuam a ser mal compreendidos.
Segundo a investigadora Eve Otjacques, “este estudo é o primeiro a aplicar uma abordagem molecular para estudar os efeitos do aquecimento e da acidificação dos oceanos nos sepiolidos, e foi interessante descobrir genes específicos que são afetados negativamente pela temperatura, o que poderia explicar, a nível molecular, a dificuldade deste animal em adquirir as bactérias luminosas simbióticas na eclosão (conforme constatado num estudo anterior).”
A investigação focou-se no sepiólideo havaiano (Euprymna scolopes), encontrado nas águas rasas das ilhas havaianas, para compreender o impacto do aquecimento e da acidificação dos oceanos (níveis previstos para 2100) no animal durante a embriogénese a nível molecular (expressão genética). Compreender estas mudanças na expressão genética e as funções subjacentes permitiu avaliar o estado dos estágios iniciais da lula bobtail quando exposta a condições ambientais num futuro próximo.
Segundo a investigadora Eve Otjacques, “este estudo é o primeiro a aplicar uma abordagem molecular para estudar os efeitos do aquecimento e da acidificação dos oceanos nos sepiolidos”.
Neste estudo, foi confirmado que o aquecimento dos oceanos reduz o sucesso da eclosão no sepiólideo, embora a acidificação dos oceanos tenha tido um efeito negativo ainda maior. Além disso, embora a acidificação dos oceanos tenha provocado a resposta molecular mais forte, com alterações nos genes relacionados com o metabolismo e a produção de energia, mostrámos aqui que o aquecimento dos oceanos também afeta a capacidade simbiótica do animal ao nível molecular.
Para a investigadora, “foi interessante descobrir genes específicos que são afetados negativamente pela temperatura, o que poderia explicar, a nível molecular, a dificuldade deste animal em adquirir as bactérias luminosas simbióticas na eclosão (conforme constatado num estudo anterior).”
Em ligação com um estudo anterior publicado este ano, liderado pelos mesmos autores (https://doi.org/10.1111/gcb.70243), que mostrou que a eficiência da colonização era afetada negativamente pela temperatura, aqui destacamos como a temperatura pode perturbar uma via molecular específica envolvida no início desta simbiose, o que pode explicar as dificuldades na colonização.
Por fim, este estudo também sugere o potencial de plasticidade fenotípica e de adaptação do animal, por meio da modulação molecular (edição de RNA e splicing alternativo), em resposta a fatores de estresse ambiental.
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Texto facultado pela investigadora Eve Otjacques