MARE contribui para o debate nacional sobre literacia do oceano na 2ª Conferência Nacional

A 2ª Conferência Nacional de Literacia do Oceano reuniu, a 7 e 8 de novembro no Pavilhão do Conhecimento, investigadores, professores, jovens, instituições públicas e organizações da sociedade civil para discutir como Portugal se relaciona com o mar. O MARE participou em várias sessões do programa, destacando abordagens educativas, culturais e sociais que reforçam a importância de envolver diferentes públicos na proteção do oceano. 

Organizada pela Ciência Viva e pelo Comité Nacional para a Década do Oceano (CNDO), com o apoio institucional da Direção-Geral de Educação (DGE) e a Direção-Geral de Política do Mar (DGPM), a conferência debateu a Literacia do Oceano nos contextos da educação, da sociedade, da comunicação, cidadania e ativismo, da economia azul sustentável, saberes tradicionais e comunidades de língua portuguesa e voz dos jovens.

O MARE tem desempenhado um papel relevante na evolução da Literacia do Oceano em Portugal e na consolidação desta conferência como espaço de encontro entre a ciência, a educação e a sociedade. Neste contexto, Zara Teixeira, investigadora do MARE/ARNET na Universidade de Évora, integrou a comissão de programa da conferência nas primeiras e segundas edições deste evento, tendo moderado a sessão dedicada à comunicação, reforçando a presença ativa do MARE na orientação estratégica desta iniciativa nacional.

A investigadora teve ainda a oportunidade de apresentar o trabalho desenvolvido nas salinas da Figueira da Foz, na sessão dedicada à sociedade. Este projeto tem aproximado a comunidade de um património natural muitas vezes invisível. Zara Teixeira recordou que “havia uma dissociação muito grande entre as salinas tradicionais da Figueira da Foz e a própria cidade” e explicou como o projeto procurou reduzir essa distância através de atividades colaborativas com associações locais, artistas e grupos comunitários.

Na sessão dedicada à comunicação, Claudia Erber, investigadora do MARE no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), partilhou o percurso do podcast e do videocast Olhos no Mar, que reúne testemunhos de mulheres que trabalham histórias de mulheres que trabalham na área da conservação marinha, em particular observadoras de mamíferos marinhos O projeto, descreveu a investigadora, “tornou-se uma fonte de conhecimento destas histórias muito únicas”, levando ao público experiências reais de quem vive o mar no dia a dia.

A perspetiva dos jovens ganhou palco com a intervenção de Joana Camacho, jovem embaixadora do MARE - Madeira no ARDITI/Universidade da Madeira. A sua mensagem centrou-se na importância de comunicar esperança e motivação. Tal como afirmou, “acho bastante importante consciencializar, mas também mostrar aquilo que ainda pode ser salvo”, defendendo que imagens positivas e oportunidades de participação têm maior impacto na mobilização das novas gerações.

Na sessão dedicada à educação, Diana Boaventura, investigadora MARE/ARNET na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS ULisboa) e professora na Escola Superior de Educação João de Deus, apresentou o trabalho desenvolvido para integrar a literacia do oceano na formação inicial de professores, através de atividades práticas e colaborativas em contexto académico. Já Miguel Pessanha Pais, colaborador do MARE e membro da Associação MARDIVE, destacou a evolução do programa KidsDive, que passou a recorrer à realidade virtual para chegar a escolas de todo o país. O investigador lembrou que “por vezes não é possível levar pessoas com mobilidade reduzida à maré, mas é possível levar a maré a essas pessoas através de realidade virtual”, sublinhando o potencial das tecnologias imersivas para promover inclusão.

A conferência incluiu ainda uma reflexão sobre os saberes tradicionais em países de língua portuguesa. Fernando Momade, aluno de doutoramento do MARE na Universidade Nova de Lisboa, trouxe a experiência de Moçambique, onde o conhecimento transmitido ao longo de gerações enfrenta agora os impactos das alterações climáticas. Como referiu, “a pesca não é só uma atividade económica, é também uma identidade cultural”, o que remete para a importância de integrar estas perspetivas nas estratégias de literacia do oceano.

Ao longo de dois dias, os contributos do MARE/ARNET evidenciaram a diversidade de caminhos que dinamizam a literacia do oceano em Portugal. Da comunicação ao território, da educação à cultura, as intervenções reforçaram a ideia de que conhecer o oceano é um processo coletivo que envolve a ciência, as comunidades e a criatividade.

 

Texto de Vera Sequeira, Joana Cardoso e Zara Teixeira