Há um novo capítulo sobre percebes

O percebe é um recurso natural com valor económico e bastante explorado em Portugal. A investigadora do MARE e Professora do Departamento de Biologia da Universidade de Évora, Teresa Cruz, estuda há mais de 30 anos os percebes, nome comum das espécies do género Pollicipes e acaba de publicar um capítulo na revistacientífica "Oceanography and Marine Biology - An Anual Review”.

O capítulo, "Pedunculate cirripedes of the genus Pollicipes: 25 Years after Margaret Barnes' Review", revê a informação científica relativa aos últimos 25 anos sobre as diferentes espécies de percebes conhecidas globalmente. A sua publicação “foi um grande esforço coletivo e um prazer, e representa uma boa parte da investigação que se tem feito no Laboratório de Ciências do Mar da Universidade de Évora (CIEMAR) nos últimos anos", afirma a investigadora e autora principal, Teresa Cruz.

Juntamente com a equipa de investigadores que trabalham no CIEMAR, a investigadora apresenta neste trabalho uma revisão e atualização da literatura sobre as espécies de Pollicipes, nomeadamente sobre vários aspetos da sua biologia e ecologia, da pesca, gestão e conservação deste recurso marinho. Aponta também as áreas emergentes e as lacunas que ainda faltam preencher no estudo destes pequenos habitantes da zona rochosa entremarés.

Em Portugal, o percebe pertence à espécie Pollicipes pollicipes e é um dos recursos marinhos com maior valor económico do nosso país. Presente em zonas rochosas entremarés com forte exposição à ondulação, a espécie Pollicipes pollicipes distribui-se pela costa ocidental europeia, desde o sudoeste de Inglaterra até Portugal, estendendo-se ao noroeste da costa africana até ao Senegal. Esta espécie tem sido objeto de muitos estudos e do desenvolvimento de estratégias de gestão e conservação de pesca por parte da investigadora Teresa Cruz e da sua equipa.

Esta revisão do estado da arte agora publicada complementa e atualiza o trabalho anteriormente publicado por Margaret Barnes em 1996 na mesma revista científica e é também um tributo a Margaret Barnes. À espécie atlântica Pollicipes pollicipes juntam-se as três outras espécies conhecidas de percebes, Pollicipes polymerus – nordeste do Oceano Pacífico, Pollicipes elegans – zona tropical este do Oceano Pacífico - e outra espécie atlântica, endémica das ilhas de Cabo Verde, Pollicipes caboverdensis. Esta última espécie  foi descrita em 2010 como uma nova espécie por Joana N. Fernandes, Robert Van Syoc e Teresa Cruz.

De 1996 até aos dias de hoje foi feito um progresso considerável em várias áreas emergentes do conhecimento, nomeadamente na filogeografia, na bioadesão, na pesca e sua gestão e na aquacultura.

Muitos portugueses são apreciadores deste marisco, o percebe. Existe no nosso país uma longa tradição de exploração de Pollicipes pollicipes, tanto por pescadores profissionais como recreativos. Há leis que diferem ao longo do território português no que diz respeito à pesca deste recurso, sobretudo nas áreas marinhas protegidas, como o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e a Reserva Natural das Berlengas. Mas a legislação de pesca comercial do percebe começa a evoluir para um modelo de co-gestão, que envolve decisores políticos, científicos e pescadores. A implementação do sistema formal de co-gestão da apanha do percebe na Reserva Nacional das Berlengas, em 2021, é um exemplo deste progresso.

 

Para além da importância socio-económica da espécie a nível global, os percebes também têm importância cultural. De acordo com Cruz et al. 2022, "eles proporcionam inspiração icónica para o património cultural de várias formas: gastronomia, pintura, escultura, fotografia, design gráfico e de moda, artesanato e festividades locais dedicadas ao percebe (como é o exemplo dos Festivais do Percebe em Vila do Bispo e Aljezur, no Algarve)". Não queremos perder tal recurso, pois não?

 

O capítulo completo pode ser encontrado aqui: https://www.taylorfrancis.com/chapters/oa-edit/10.1201/9781003288602-3/pedunculate-cirripedes-genus-pollicipes-25-years-margaret-barnes-review-teresa-cruz-david-jacinto-joana-fernandes-maria-in%C3%AAs-seabra-robert-van-syoc-anne-marie-power-gonzalo-macho-alina-sousa-jo%C3%A3o-castro-stephen-hawkins