Estudo nas Seychelles revela que tubarões e raias estão em risco — mesmo em zonas protegidas

Um estudo recente realizado na pequena Ilha Frégate, nas Seychelles, revela que tubarões e raias estão a desaparecer a um ritmo preocupante — mesmo em áreas teoricamente protegidas. A investigação decorreu entre 2019 e 2022, com recurso a câmaras subaquáticas que registaram a presença destes animais de forma não invasiva. 

Os resultados foram publicados no passado mês de junho na prestigiada revista científica Marine Biology, num artigo assinado por uma equipa internacional, que inclui os investigadores do MARE Rui Rosa, Maria V. Lourie, Margarida Vizeu-Prinheiro, Francisco Borges, Melanie Court e Catarina Pereira Santos.

Os dados recolhidos permitiram identificar algumas áreas específicas da ilha onde a presença destes animais ainda é relativamente comum. Locais como Barracuda Rock ou Castle Rock parecem funcionar como refúgios naturais e podem ser cruciais para a sua sobrevivência a longo prazo. Por esta razão, estes locais são considerados um “hot spot” de biodiversidade marinha, e por isso, áreas que merecem uma proteção especial.

Ao longo de três anos, os investigadores conseguiram identificar 18 espécies diferentes de tubarões e raias. No entanto, mais de metade destas espécies estão classificadas como ameaçadas de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Além da pesca excessiva e da destruição dos habitats naturais, o estudo identificou outro fator preocupante: a temperatura da água. Quando a água do mar ultrapassava os 30 °C, a presença de tubarões e raias diminuía consideravelmente. Este é um claro sinal de que as alterações climáticas estão a afetar diretamente a vida marinha.

Um dos dados mais reveladores deste estudo foi a relação entre as espécies e o tipo de habitat marinho. Os tubarões mostraram preferência por zonas com rochas e cascalho, enquanto as raias surgem com mais frequência em áreas de rocha com areia. Estes detalhes, à primeira vista técnicos, são fundamentais: ajudam a identificar os habitats que mais precisam de ser preservados, para garantir a sobrevivência destes animais essenciais à saúde dos ecossistemas marinhos.

Apesar da localização remota da Ilha Frégate, os investigadores alertam que a pressão humana, seja pela pesca, pelo turismo desregulado ou pelo impacto das alterações climáticas, está a deixar marcas profundas nas populações de tubarões e raias.

Face a este cenário, a ação tem de ser rápida e coordenada, que deva inclui medidas como a criação e reforço de áreas marinhas protegidas; A regulação mais eficaz das práticas de pesca, em especial daquelas que colocam estas espécies em risco; A monitorização contínua das populações, com recurso a tecnologias não invasivas como os vídeos subaquáticos; E uma aposta séria no combate às alterações climáticas, que já estão a alterar profundamente os padrões de vida marinha.

Este estudo deixa um aviso claro: nem os paraísos tropicais estão imunes aos efeitos da atividade humana. Proteger tubarões e raias é mais do que salvar espécies — é proteger o equilíbrio e o futuro dos nossos oceanos.

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