MARE em destaque no Falar Global: Investigadoras alertam para os perigos invisíveis da poluição por micro e nanoplásticos

O MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente – marcou presença no programa Falar Global, da CMTV, numa entrevista esclarecedora sobre os impactos da poluição por plásticos, em especial os micro e nanoplásticos, que invadem silenciosamente os ecossistemas e ameaçam a saúde humana. As investigadoras Carla Silva e Paula Sobral, especialistas no tema, foram convidadas a explicar como a ciência e a tecnologia podem ajudar a combater este problema ambiental global. 

Durante a conversa, Carla Silva destacou que os efeitos da poluição plástica vão muito além dos danos físicos aos organismos:
"Ainda se procura saber realmente os verdadeiros efeitos, que já se destacou que não são só físicos, também provocam outras lesões a nível comportamental, a nível molecular, celular e bioquímico dos ecossistemas."
A investigadora alertou para a presença de nanoplásticos em locais impensáveis do corpo humano: "Já foi descobertos nanoplásticos na placenta, no cérebro humano, nos testículos inclusive, e sabemos que isso vai trazer no futuro muito mais consequências, para nós, o ser humano."

Paula Sobral, por sua vez, reforçou que este é um problema que transcende o ambiente marinho: "O plástico de facto afeta muito mais do que a vida marinha, aliás o plástico não existe só no mar, existe em terra, no ar que respiramos, na água que bebemos, digamos que estamos muito expostos a esta contaminação."

Segundo a investigadora, os nanoplásticos, ainda mais pequenos que os microplásticos, são invisíveis ao olho humano e penetram facilmente nas células, desencadeando processos inflamatórios e sendo associados a doenças como o cancro e problemas cardiovasculares: “As evidências demonstram de facto que existem depois processos inflamatórios, existe uma causalidade relativamente a algumas doenças (...). Existe uma preocupação muito grande que tem levado muitos investigadores a fazer cada vez mais investigação neste tema."

Apesar dos avanços na ciência e na tecnologia, Paula Sobral frisou que não há soluções simples ou únicas. "Não há uma solução única e não há ninguém que possa dizer 'eu tenho a solução' neste momento, porque a solução é transversal a muitos setores da sociedade e, portanto, é preciso que haja ações concertadas."
A investigadora defendeu uma redução na produção de plástico, criticando a resistência da indústria a esta mudança."Desde logo deveríamos pensar em diminuir a produção do plástico, o que obviamente não é algo que a indústria goste muito de ouvir."

A necessidade de alternativas sustentáveis e o papel do consumidor também foram abordados, com a especialista a sublinhar que a escolha do consumidor está condicionada pelas opções que a indústria coloca no mercado. "É um problema muito difícil. Podemos ter legislação, podemos ter ciência e tecnologia (...) mas de facto o consumidor também tem de fazer as opções certas, desde que essas opções existam, e isso não é o consumidor que escolhe, é a indústria.", refere.

Paula Sobral concluiu com um apelo à ação coletiva: "A ciência e a tecnologia podem ajudar, mas temos de ter leis, políticas públicas que orientem e temos de aumentar a literacia da população (...). É difícil, mas precisamos do esforço de todos. Ninguém se deve demitir de fazer algo porque só com o conjunto das ações de toda a gente é que podemos ter esperança que alguma coisa se vai modificar no futuro."

A presença do MARE no Falar Global serviu para reforçar a urgência do combate à poluição plástica, chamando a atenção para a necessidade de soluções integradas que envolvam governos, indústria, ciência e cidadãos.

 

Para aceder à entrevista clique AQUI