Investigadores do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente marcaram presença no 24º Encontro Nacional de Ecologia (24º ENE), que decorreu entre 20 e 22 de novembro na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa). 
Organizado pela Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO) em parceria com os centros de investigação MARE/ARNET e CE3C/CHANGE, o encontro reuniu a comunidade nacional de ecólogos para discutir os desafios atuais da ecologia, da conservação e da saúde planetária. Na sessão de abertura, Ricardo Melo, coordenador do MARE-ULisboa, destacou a forte presença de jovens na audiência, o que indica que, afinal, não “somos sempre os mesmos”, algo que considera um motivo de grande entusiasmo.
Ao longo dos três dias, dezenas de investigadores do MARE subiram ao palco para apresentar a investigação que têm desenvolvido. Entre eles, esteve Vanessa Fonseca, investigadora do MARE/ARNET em Ciências ULisboa, que ocupou um lugar de destaque no evento como oradora convidada, ao apresentar uma das quatro palestras principais. A sua intervenção, dedicada aos desafios emergentes nos ecossistemas costeiros, destacou a acumulação de contaminantes e a introdução crescente de espécies invasoras como as principais pressões de origem antropogénica que têm vindo a afetar estes ecossistemas. Segundo a investigadora, estas alterações têm consequências na estrutura e no funcionamento dos ecossistemas, com impacto direto na segurança alimentar e, por consequência, na própria saúde humana.
O programa contou ainda com intervenções de Rui Rosa e Bernardo Duarte, investigadores e professores do MARE/ARNET em Ciências ULisboa. Rui Rosa apresentou o trabalho que realizou no estudo dos padrões globais de arrojamentos de cefalópodes –episódios em que lulas, chocos ou polvos dão à costa e ficam imobilizados – recorrendo a uma base de dados de ciência cidadã com 26 milhões de registos. A partir destes dados, o investigador identificou locais em várias regiões do globo onde estes eventos ocorrem em grande escala (os chamados hotspots) e discutiu potenciais causas, que podem abranger desde tempestades até anomalias térmicas e variações de correntes oceânicas.
Já Bernardo Duarte mostrou como a inteligência artificial (IA) está a ser usada para responder a desafios ecológicos e de saúde planetária, explicando como tem vindo a treinar ferramentas de IA para diversas aplicações, entre as quais o reconhecimento automático de espécies invasoras a partir de fotografias e a rastreabilidade da origem de produtos alimentares, contribuindo assim para combater a fraude alimentar e apoiar processos de tomada de decisão. “Quanto maior for a amostra, melhor será a ferramenta”, sublinhou o investigador, destacando a importância de conjuntos de dados extensos para melhorar o desempenho destes modelos.
Para além das palestras e comunicações, o encontro ficou igualmente marcado pelo reconhecimento atribuído a vários investigadores do MARE. Afonso Ferreira, distinguido pela SPECO com o 1º Prémio de Doutoramento em Ecologia em 2025 pela sua tese dedicada à resposta do fitoplâncton às alterações climáticas na Península Antártida, recebeu oficialmente o diploma na cerimónia de encerramento do 24º ENE. O jovem investigador combinou dados de satélite, de laboratório e de campo para melhorar a monitorização das alterações em curso no Oceano Austral.
O investigador José Ricardo Paula, que recebeu o Fundo de Apoio ao Início de Carreira em 2020, foi convidado pela SPECO a apresentar o impacto do prémio no seu percurso profissional. O investigador mostrou o que conseguiu desenvolver com o apoio monetário recebido e salientou a importância deste reconhecimento para jovens cientistas em início de carreira. “Ter a distinção de melhor projeto de iniciação em investigação científica ou de melhor tese de doutoramento em ecologia no nosso país é algo com muito peso lá fora e que nos ajuda a competir por posições em instituições internacionais”, afirmou.
A distinção de melhor comunicação oral do evento foi atribuída ao investigador João Grave, também do MARE/ARNET em Ciências ULisboa. O seu trabalho, desenvolvido em recifes de coral nas Caraíbas, mostra que a presença de góbios limpadores – pequenos peixes que removem parasitas de outros peixes – influencia a abundância e o comportamento dos peixes herbívoros, que desempenham um papel essencial na remoção das algas que têm vindo a ameaçar os recifes. A investigação demonstra que, na ausência destes góbios, as populações de herbívoros diminuem e tornam-se mais cautelosas, reduzindo a remoção de algas.
A participação do MARE revelou, uma vez mais, a diversidade e o alcance da investigação desenvolvida no centro, desde a ecologia marinha às invasões biológicas, passando pela ecotoxicologia, microplásticos, simbioses, rastreabilidade alimentar, recifes de coral e impactos das alterações climáticas. Esta presença destacada no programa do evento reforça o papel do MARE como referência nacional na investigação ecológica e marinha.
Texto de Joana Cardoso