Aquacultura sustentável: investigadora do MARE em destaque no Biosfera

Investigadora do MARE participou no programa Biosfera, num episódio dedicado à aquacultura e aos desafios da produção sustentável de peixe em cativeiro. 

Ana Pombo, investigadora do MARE/ARNET e professora na licenciatura de Biologia Marinha e no mestrado em Aquacultura do Politécnico de Leiria, participou no mais recente episódio do programa Biosfera, transmitido a 1 de novembro de 2025 na RTP2. O episódio, intitulado “Aquicultura à Prova”, abordou os impactos da produção intensiva de peixe em cativeiro e o papel da investigação científica na criação de soluções mais sustentáveis para alimentar uma população mundial que se encontra em crescimento, numa altura em que a sobrepesca é já um problema.

Portugal é o terceiro país no ranking dos maiores consumidores de peixe, estimando-se que cada português consuma em média 56 kg de pescado por ano, mais do dobro da média europeia. Esta dependência acentuada tem, porém, custos ambientais e económicos. Mais de metade do peixe consumido no país é importado, muitas vezes de países onde a produção é intensiva e a regulamentação ambiental mais permissiva.
Encontrar formas de tornar a aquacultura mais sustentável e com uma menor pegada ambiental tornou-se uma prioridade para Ana Pombo. O MARE-PLeiria foi precisamente referido no programa como o pioneiro na implementação de sistemas multitróficos em Portugal, que juntam várias espécies com funções complementares nos tanques de produção, tornando o sistema mais produtivo e sustentável. “Conseguimos ter um ambiente muito mais equilibrado e mais parecido com o ecossistema natural”, afirma Ana Pombo.

No caso dos peixes, os restos de alimento e as suas excreções acumulam-se no fundo dos tanques e, se forem libertados para o meio natural, podem provocar problemas de eutrofização, no entanto, explica: “Os resíduos dos peixes são exatamente aquilo que as algas precisam para crescer: azoto e fósforo”. Por outro lado, as algas também ajudam a produzir oxigénio e a resgatar carbono, pelo que, ao fazer um cultivo integrado destas duas espécies, o produtor obtém no final dois produtos diferentes, tornando a sua produção mais sustentável, eficiente e amiga do ambiente.

Apesar da aquacultura poder ajudar na recuperação das populações naturais, ameaçadas muitas vezes pela sobrepesca, é necessário reconhecer que não é possível produzir todas as espécies em cativeiro. “Nos animais terrestres também não domesticamos todos”, relembra Ana Pombo, explicando que, por exemplo, no caso das lagostas e lavagantes, ocorre demasiado canibalismo e que, no caso do atum, surgem malformações por ser uma espécie muito ativa e bater contra as estruturas, o que torna a produção inviável.

Ao longo do episódio foram ainda abordadas questões relacionadas com a alimentação dos peixes de aquacultura, as contaminações de mercúrio nos peixes de origem selvagem e o uso de antibióticos na produção em cativeiro. Em comum, os testemunhos sublinharam a necessidade de consumir peixe de forma mais consciente, valorizando a origem, as condições de produção, a pegada ecológica associada e as questões éticas ligadas ao bem-estar animal.

A presença do MARE no programa reflete a relevância do trabalho desenvolvido pelo centro na valorização dos ecossistemas marinhos, destacando-se a aposta em soluções inovadoras que promovem uma aquacultura mais equilibrada, ética e sustentável, capaz de responder aos desafios ambientais e alimentares do futuro.

Episódio disponível AQUI

 

Texto de Joana Cardoso