Novo estudo publicado na revista Environmental and Sustainability Indicators identifica prioridades de investigação e gestão para a próxima década, destacando o papel da ciência na antecipação de riscos e na definição de políticas públicas.
Um grupo de 18 investigadores do Laboratório Associado ARNET – Rede de Investigação Aquática acaba de publicar o primeiro exercício sistemático de horizon scanning dedicado aos ecossistemas aquáticos portugueses. O estudo, agora disponível na revista científica Environmental and Sustainability Indicators, identifica os 15 grandes desafios e oportunidades que deverão marcar a próxima década em investigação aquática.
Entre as prioridades para os ecossistemas marinhos, o trabalho destaca a erosão costeira, os impactos da transição energética verde (desde a instalação de parques eólicos offshore à eventual mineração em mar profundo) e a necessidade de expandir e interligar Áreas Marinhas Protegidas.
No que diz respeito aos ecossistemas de água doce, sobressaiu a importância de localizar refúgios de biodiversidade em períodos de seca e de avaliar os riscos ecológicos e sociais de grandes transferências de água entre regiões, como o projeto de Transvase do Alqueva.
Entre os tópicos transversais, o trabalho sublinha a necessidade de desenvolver soluções para detetar e remover poluentes emergentes, como fármacos, pesticidas e microplásticos, dos ecossistemas e reforça a necessidade de apostar no restauro ecológico.
“A identificação destes 15 temas oferece um roteiro claro para a investigação e a gestão dos ecossistemas aquáticos em Portugal na próxima década, ajudando a antecipar riscos e a orientar políticas mais eficazes”, explica Ronaldo Sousa, investigador do ARNET/CBMA – Universidade do Minho e coordenador deste trabalho colaborativo de reflexão.
Antecipar riscos para agir melhor
Num contexto de crise climática e de alterações globais, o trabalho propõe uma abordagem proativa de gestão ambiental, capaz de antecipar desafios antes que ocorram danos irreversíveis.
Os autores sublinham que este tipo de exercício de horizon scanning, centrado na identificação precoce de temas emergentes, melhora os processos de decisão e reforça a ligação entre a ciência, as políticas públicas e a ação no território.
“Preparar o país para os riscos emergentes exige uma visão integrada e um maior investimento em ciência, inovação e cooperação interdisciplinar”, referem os investigadores, destacando a importância da colaboração contínua entre cientistas, decisores políticos e comunidades locais.
Uma missão com futuro
O estudo foi desenvolvido no âmbito do Laboratório Associado ARNET, que integra três unidades de investigação: o MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, o CBMA – Centro de Biologia Molecular e Ambiental e o CIMA – Centro de Investigação Marinha e Ambiental.
Com mais de 700 investigadores em 11 instituições anfitriãs, o ARNET dedica-se ao estudo integrado dos sistemas aquáticos, desde as bacias hidrográficas ao oceano profundo, promovendo a ligação entre o conhecimento científico, as políticas públicas e a ação no território, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e para uma gestão mais informada dos ecossistemas.
Este estudo contou com o financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), através do apoio ao Laboratório Associado ARNET (LA/P/0069/2020) e às três unidades de investigação que o constituem.
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Texto de Vera Sequeira
Fotografia de Ana Matias