A presença de plástico na vida moderna é inegável, mas os seus impactos na saúde humana só agora começam a ser compreendidos. No centro deste esforço está a investigadora do MARE Marta Martins, que em entrevista ao jornal expresso falou do trabalho que está a desenvolver nesta área.
Pioneira em Portugal no estudo dos microplásticos no meio aquático, Marta Martins tem conduzido investigações que agora avançam para um território mais preocupante: os nanoplásticos — partículas com menos de um micrómetro, capazes de atravessar barreiras celulares e atingir tecidos humanos.
Num estudo recente, em colaboração com a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, a equipa da investigadora expôs células intestinais humanas a nanoplásticos. Os resultados são alarmantes. “A exposição de nanoplásticos a células intestinais está a fazer com que os mecanismos de defesa inflamatória das células sejam ativados”, resume a investigadora do MARE Marta Martins. “É um indício de que os nanoplásticos estão a ter um efeito negativo. Estamos a tentar perceber de que forma essa interação acontece: se os nanoplásticos estão só na barreira da membrana celular ou se entram na célula, o que está a ser ativado e a que nível”.
O trabalho de Marta Martins não se limita ao efeito direto dos nanoplásticos nas células. A investigadora alerta também para uma linha de investigação emergente: o papel dos plásticos como vetores de poluentes. As partículas podem transportar, à sua superfície, contaminantes perigosos como mercúrio, hidrocarbonetos e até microrganismos patogénicos. Além disso, os aditivos químicos usados na produção dos plásticos podem ser libertados no corpo humano, ampliando os riscos de toxicidade.
Estas preocupações ganham peso à luz de um estudo norte-americano recente, publicado na Nature Medicine, que encontrou até sete gramas de plástico — o equivalente a uma colher descartável — acumulados no cérebro de pessoas falecidas em 2024. Os investigadores norte-americanos verificaram ainda uma maior concentração de partículas em cérebros de pessoas com diagnóstico de demência, embora as conclusões exijam mais investigação.
Num artigo publicado no final de 2024 no Journal of Toxicology and Environmental Health, a equipa de Marta Martins reforça a urgência de desenvolver métodos de deteção fiáveis e destaca os “efeitos tóxicos imprevisíveis” dos nanoplásticos, que podem ir da inflamação à genotoxicidade.
Perante este cenário, a investigadora mantém um olhar pragmático e determinado: “Já existem algumas metodologias aplicadas para a deteção de nanoplásticos; não irá faltar muito mais tempo”.
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