O investigador do MARE Luís V. Duarte é coautor do artigo “Ocean acidification at the Toarcian Anoxic Event captured by boron isotopes in the lime mud record”, recentemente publicado na prestigiada revista científica Nature Communications Earth & Environment.
O estudo, liderado pela Universidade de Bremen, revela que durante o Evento Anóxico Toarciano — há cerca de 183 milhões de anos — o oceano sofreu uma acidificação significativa, comparável à que se prevê para o futuro próximo se as emissões de CO₂ continuarem a aumentar.
A investigação recorreu a uma técnica inovadora: a análise dos isótopos de boro presentes em depósitos de lama calcária, em bivalves e em braquiópodes, que conservam registos precisos do pH dos oceanos da época. Esta abordagem permitiu aos cientistas reconstruir com grande detalhe a química marinha durante este período de colapso ambiental.
O Evento Anóxico Toarciano foi marcado por uma grande perturbação no ciclo global do carbono, resultante da libertação em massa de dióxido de carbono por atividade vulcânica da província magmática Karoo-Ferrar. Esta libertação desencadeou uma cascata de efeitos climáticos: aumento da temperatura global, perda de oxigénio nos oceanos e acidificação generalizada — um cenário que espelha, em escala natural, o que hoje está a ser impulsionado pela ação humana.
Segundo os autores, esta acidificação teve impactos devastadores na vida marinha, especialmente em organismos com estruturas calcárias sensíveis, como corais e moluscos. A rapidez com que a acidificação ocorreu também é digna de destaque, reforçando a ideia de que o oceano pode mudar rapidamente quando sujeito a um stress climático extremo.
Deste modo, o estudo reforça a utilidade dos registos geológicos na previsão de riscos e eventos futuros. Com base nestes dados, os cientistas alertam: a acidificação atual do oceano, pode repetir os padrões de extinção e colapso ecológico do passado, caso não sejam tomadas medidas globais urgentes.
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