Na sala principal do Museu Marítimo de Ílhavo, quinze rostos devolvem o olhar ao visitante. São mulheres que dedicaram a vida ao mar, retratadas por Aníbal Lemos com um objeto nas mãos, símbolo pessoal e científico do seu percurso. A exposição “O Mar por objeto: As mulheres, a ciência e o outro lado do Oceano”, inaugurada no dia em que o museu celebrou 88 anos, é um convite a conhecer não só a investigação, mas também as histórias, paixões e memórias que habitam cada carreira.
Entre as protagonistas, seis são investigadoras do MARE: Alexandra Silva, Clara Amorim, Mafalda Freitas, Maria José Costa, Teresa Mouga e Vanda Brotas. Cada uma, consoante o seu percurso e experiência, tem contribuído para desvendar os segredos do oceano, seja através da bioacústica dos peixes, do estudo do fitoplâncton, da ecotoxicologia, da gestão sustentável das pescas ou da proteção das macroalgas marinhas.
Para Maria José Costa, esta mostra é mais do que um conjunto de fotografias: “Acho esta exposição extremamente importante. Estávamos lá 15, mas poderiam estar muitas mais, sobretudo as mais jovens. Hoje existe um grupo grande de cientistas na área do mar, mas quando comecei praticamente não havia mulheres. É fundamental dar visibilidade a este trabalho e inspirar outras a seguir este caminho.”
No prefácio da exposição, o diretor do Museu, Nuno Miguel Costa, lembra que falar do papel das mulheres nas comunidades marítimas é também afirmar identidade e preservar memórias, trazendo novos olhares para a ciência do mar.
Ao caminhar pela sala, percebe-se que cada objeto fotografado é um fio condutor: há livros que marcaram décadas de estudo, modelos de espécies marinhas, instrumentos científicos e recordações de missões de investigação. São objetos que condensam uma vida de trabalho e revelam a ligação profunda entre ciência e mar.
A exposição pode ser visitada até 31 de dezembro de 2025 no Museu Marítimo de Ílhavo, um espaço de referência na preservação e divulgação do património marítimo português, que integra também o Navio-Museu Santo André e o Centro de Religiosidade Marítima. Fundado em 1937, o museu é reconhecido pela sua ligação à história da pesca do bacalhau e à cultura das comunidades marítimas.
O autor das fotografias, Aníbal Lemos, é fotógrafo e diretor do Centro de Arte de S. João da Madeira. A sua obra cruza frequentemente o retrato e a narrativa visual, procurando captar a essência e a identidade das pessoas fotografadas. Nesta exposição, a sua abordagem intimista e a escolha dos objetos pessoais conferem profundidade e proximidade aos retratos, transformando cada imagem numa história visual única.
Visitar esta exposição é entrar num diálogo com o mar através dos rostos e das memórias destas quinze mulheres. É deixar-se inspirar pelas suas trajetórias e reconhecer que a ciência também se faz de trabalho, dedicação e amor pelo oceano.
Texto de Vera Sequeira