Entre 23 e 27 de junho, mais de 6 500 participantes de quase 120 países reuniram-se em Viena para o Living Planet Symposium 2025, o maior encontro europeu dedicado à observação da Terra, promovido pela Agência Espacial Europeia (ESA). Entre investigadores de todo o mundo, marcaram presença três investigadoras do MARE/ARNET, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa: Vanda Brotas, Giulia Sent e Graça Sofia Nunes.
As três investigadoras levaram à conferência diferentes formas de olhar o oceano a partir do espaço, da Antártida aos estuários portugueses, passando pela sala de aula, os livros e até o teatro.
A professora Vanda Brotas apresentou um projeto inovador de comunicação de ciência que usa o poder da narrativa para despertar o interesse de crianças pelo oceano e pela observação da Terra por satélite. A história começa com um livro ilustrado, A menina que via o mar de várias cores, que apresenta, através da fantasia, o conceito de “cor do oceano”, uma variável essencial no estudo do clima. A protagonista vê o que mais ninguém vê: padrões coloridos no mar, provocados por fitoplâncton microscópico. À medida que a história avança, o leitor é guiado por conceitos científicos adaptados à idade escolar, como a relação entre fitoplâncton e pesca, ou a importância de combinar dados de satélite com medições no mar.
O livro foi incluído no Plano Nacional de Leitura e chegou a escolas de todo o país, através de visitas que envolvem jogos com folhas coloridas para simular gradientes de cor do oceano. Mais tarde, a história foi adaptada ao teatro, com espetáculos que terminam com perguntas ao público, promovendo o diálogo e a curiosidade. A versão inglesa, disponível gratuitamente online, pode ser lida aqui.
Graça Sofia Nunes partilhou o seu trabalho de mestrado sobre a dinâmica do fitoplâncton no Mar de Ross, na Antártida. Através de 25 anos de dados de satélite e modelação oceânica, analisou padrões de floração em diferentes zonas deste ecossistema remoto e sensível às alterações climáticas. Os resultados mostram como o gelo, o vento e as correntes moldam a produtividade biológica ao longo do tempo.
Já Giulia Sent apresentou um estudo desenvolvido no âmbito do seu doutoramento, que utiliza oito anos de imagens de satélite para investigar a dinâmica da qualidade da água no Estuário do Tejo. Através da classificação de “tipos ópticos de água”, conseguiu identificar padrões associados às marés, abrindo novas possibilidades para monitorizar zonas costeiras com alta variabilidade.
Além das apresentações científicas, a conferência ofereceu momentos de troca de experiências, novas colaborações e uma forte aposta na sustentabilidade do evento. Uma certeza ficou clara: olhar a Terra do espaço é essencial para compreender o oceano e preparar o futuro.
Sobre os trabalhos apresentados:
Giulia Sent: A Satellite Perspective on Estuarine Dynamics: An Optical Water Types Approach
Graça Sofia Nunes: Spatio-Temporal dynamics of phytoplankton in the Ross Sea (Antarctica)
Vanda Brotas: Engaging young students to ocean colour by storytelling
Texto de Vera Sequeira