Literacia do Oceano: entre o fascínio e a necessidade de minimizar impactos

MARE ganha quatro projetos financiados pelo programa EEA Grants.

Já experimentou ter uma garrafa de ar comprimido às costas? “dá-nos a liberdade de ficarmos independentes da superfície, pelo menos durante algum tempo. Isso permite-nos ver detalhes que de outra forma teríamos que ignorar. É como visitar outro planeta em que podemos deixar-nos deslizar na corrente, observar florestas ondulantes e animais com barbatanas ou tentáculos que parecem observar-nos da mesma forma que nós os observamos a eles”.

Se “mergulhou” nestas palavras, então está no bom caminho para compreender o que é a Literacia do Oceano e facilmente percebe porque é que os investigadores do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente tanto respeitam e trabalham pelo mar: porque é vida! E por isso, quando abriram as candidaturas dedicadas à Literacia do Oceano os investigadores não hesitaram e foram quatro os projetos do MARE que conseguiram financiamento do programa EEA Grants. (Sendo que há um quinto projeto no qual também participa a investigadora do MARE Paula Sobral - EduMAR, conhecer para cuidar).

A investigadora do MARE e coordenadora da linha Temática Governância e Literacia Lia Vasconcelos indica a “sensibilização” como palavra-chave. Só com uma sociedade informada sobre os impactos que as nossas atitudes em terra têm no meio aquático é possível reverter a situação. E por isso, o MARE tem “vindo a impor-se nesta área da Literacia do Oceano”, a par com outros “projetos Europeus e Internacionais, que se apoiam no envolvimento alargado de stakeholders para a resolução conjunta de problemas e definição de estratégias a serem integradas nas políticas ligadas ao mar.”

Por isso, os projetos têm todos um denominador em comum: “contribuir para a promoção de espaços de diálogo que geram aprendizagens coletivas ao nível da literacia do oceano, e consequentemente levam a uma transformação social ao tornar os indivíduos envolvidos em agentes conscientes, responsáveis e interventivos na defesa deste recurso”, explica Lia.

Já deverão estar a perguntar-se: afinal, como é que traduzem essa literacia em ação? O projeto Kids Dive, um dos selecionados pelos EEA Grants, põe mãos à obra exatamente no mergulho. Dá a conhecer o meio marinho a crianças e jovens dos 8-17 anos, porque acredita que “não se pode proteger o que não se conhece”. “A melhor forma de contribuir para o conhecimento e a mudança de comportamentos é literalmente imergir todos os intervenientes em atividades práticas que incluem mergulho, workshops, saídas de campo e experiências com vídeos em realidade virtual (VR 360 ̊)”, explica o investigador e coordenador do projeto Frederico Almada.

Mas há mais realidades: O Oceano do (meu) futuro. Este projeto já leva alunos do secundário a questionar: será uma “carreira azul” a saída profissional para mim? E não pense só em pescadores, porque são várias as áreas: biotecnologia azul; tecnologia marítima; desportos náuticos; meio marinho, sustentabilidade e biodiversidade e ciências sociais (políticas públicas, economia e direito) também constituem uma hipótese, como explica Ana Carvalho, investigadora do projeto que é coordenado por José Guerreiro.

Os alunos do secundário podem ainda desenvolver atividades para melhor compreenderem o impacto do lixo marinho e das alterações climáticas na biodiversidade marinha com o projeto BlueWave, desenvolver ideias de empreendedorismo em concursos dinamizados ao longo do projeto, e participar em limpezas de praia ou em partidas de quiz. Neste projeto há ainda um módulo dedicado aos professores do secundário sobre literacia dos oceanos e onde será disponibilizado material pedagógico para lecionação destas temáticas. Este projeto envolve 350 alunos (50 por escola) e 28 professores (4 por escola) e os alunos participantes têm inclusivamente direito a um passaporte BlueWave, conta-nos a coordenadora deste projeto Ana Marta Gonçalves.

Mas voltemos ao mar, e, em particular, às zonas entremarés rochosas, que possuem uma grande diversidade física e biológica. O acesso por terra a estes locais permite uma fácil observação de muitas espécies diferentes, mas também os torna muito vulneráveis a atividades humanas, como a pesca e o pisoteio (ou por outras palavras, quando as pessoas andam com os pés por cima de zonas sensíveis). É aqui que entra o projeto bLueTIDE que pretende, através de atividades e recursos educativos cientificamente sólidos, promover uma mudança de atitude no que diz respeito à conservação dos ambientes entremarés. E uma das particularidades deste projeto é trabalhar com Escolas Azuis e “escolas não-Azuis fora de regiões costeiras, contribuindo para aumentar o vínculo de escolas em zonas do interior com o mar”, refere a coordenadora deste projeto Zara Teixeira.

Mas muitos destes projetos ainda estão a arrancar, por isso, por agora, “procurem uma praia com rochas nas zonas entremarés, esperem pela baixa- mar e aventurem-se à descoberta das espécies que aí vivem. E se forem um bocadinho mais curiosos, “procurem um dos inúmeros guias que há na internet, ou peçam para nós enviarmos um em formato digital”, aconselha a investigadora Zara. E claro, não esquecendo: “Preservem ativamente o Oceano, o sistema básico de suporte de vida do Planeta Azul em que vivemos”!