O investigador e professor José Lino Costa, do MARE-ULisboa/ARNET na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS), participou no programa Sociedade Civil da RTP2, dedicado à importância do mar, onde vários especialistas discutiram o papel dos oceanos e os desafios da sua proteção e gestão sustentável.
José Lino Costa destacou o papel da academia na produção de conhecimento científico sobre o mar e o progresso alcançado em Portugal nas últimas décadas. “A comunidade científica portuguesa produz ciência e conhecimento ao nível do que se faz de melhor no mundo”, afirmou, lembrando que o país surge bem posicionado nos indicadores internacionais de produção científica. Referiu, no entanto, que o desafio é maior num país com uma área marítima extensa e recursos económicos limitados.
O investigador defendeu que a ciência fundamental e a aplicada são complementares e que Portugal tem capacidade para inovar. Acrescentou que é essencial reforçar a ligação entre o país e o mar. “Fala-se muito de Portugal como um país marítimo, mas é preciso perceber se essa ideia está realmente interiorizada e se as pessoas têm interesse em voltar ao mar”, sublinhou.
Questionado sobre o papel da literacia do oceano, destacou o trabalho de sensibilização desenvolvido por centros de investigação, ONGs e organismos públicos, referindo-se ao Projeto Escola Azul, aos programas educativos da WWF-Portugal e ao MARE vai à escola. Mas salientou que “Faz-se muita literacia, mas falta avaliar se estamos a ter sucesso, se a mensagem passa e permanece.” Considera também importante reforçar a colaboração entre as universidades e a formação de profissionais com uma visão mais abrangente que inclua as dimensões sociais e as económicas ligadas ao oceano.
Na segunda parte do programa, o investigador abordou a economia azul e os desafios de um setor ainda dependente de atividades tradicionais. Explicou que estas terão de se adaptar às alterações climáticas e que o crescimento de novos setores, como a aquacultura offshore e a energia eólica marinha, deve ser acompanhado por uma gestão ambiental rigorosa. “Temos de fazer melhor no mar do que fizemos em terra. Não há incompatibilidade entre conservação e desenvolvimento económico, mas é essencial assegurar a sustentabilidade do oceano”, afirmou.
Referiu ainda que Portugal está entre os países mais próximos de cumprir as metas de criação de áreas marinhas protegidas, mas alertou que estas só são eficazes quando dispõem de meios e recursos. Considera igualmente necessário avançar com o restauro das zonas degradadas e investir na monitorização contínua do oceano. “O importante é garantir a recolha de dados ao longo do tempo, tal como se faz em meteorologia, para compreender melhor o que acontece no meio marinho”, referiu. Destacou o papel do CoastNet, infraestrutura nacional de observação costeira que combina, entre outras valências, medições diretas e dados de deteção remota, permitindo acompanhar as condições do oceano e disponibilizar informação em tempo real. “Precisamos de investir mais nestes sistemas, porque é caro e difícil, mas é essencial para termos dados fiáveis e conseguirmos avançar.”
O programa contou também com a participação de Dina Ferreira, gestora do Programa Mar 2030, que apresentou as políticas públicas e os apoios comunitários para a transição energética e sustentabilidade das pescas; Rita Sá, da WWF Portugal, que destacou o papel da cogestão e da participação das comunidades piscatórias; Álvaro Garrido, da Universidade de Coimbra, que abordou a relação entre a ciência, a cultura e a cidadania oceânica; Maria Manuel Valagão, investigadora e autora, que explorou o papel do mar na alimentação e identidade cultural portuguesa; Nuno Vasco Rodrigues, biólogo marinho e fotógrafo, que sublinhou a importância da comunicação de ciência e da imagem na sensibilização de toda a sociedade civil para a conservação; e Diana Madeira, investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), que explicou o papel do oceano na regulação do clima e os impactos das ondas de calor marinhas nos ecossistemas e nas atividades humanas.
O episódio reforçou a importância do mar para a vida no planeta e a necessidade de unir a ciência, a economia e a sociedade na sua preservação.
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Texto de Vera Sequeira