Porque é que a inteligência dos peixes importa?

O investigador do MARE José Ricardo Paula foi recentemente entrevistado pelo jornal Observador sobre a importância da inteligência dos peixes e o papel que esta pode desempenhar na conservação dos ecossistemas marinhos. 

No Laboratório Marítimo da Guia, em Cascais, o investigador lidera o grupo de Complexidade Comportamental, que procura compreender de que forma a cognição e o comportamento social dos peixes, em particular dos peixes-limpadores (Labroides dimidiatus), influenciam a dinâmica e a estabilidade dos recifes de coral. Estes pequenos peixes desempenham um papel essencial na manutenção da saúde dos ecossistemas, ao remover parasitas de outras espécies, numa relação de mutualismo que beneficia ambos.

“Em termos de biodiversidade, faz diferença termos peixes mais inteligentes ou — usando uma grande simplificação — peixes mais ‘burros’?”, questiona José Ricardo Paula.

A investigação do MARE está a explorar precisamente esta questão: como a complexidade do habitat e as alterações ambientais podem afetar a capacidade cognitiva dos peixes e, consequentemente, o equilíbrio ecológico dos recifes. O projeto, financiado pela Fundação “la Caixa”, pretende compreender se a perda de capacidades cognitivas nas populações de peixes, provocada pelo aumento da temperatura e consequentemente o branqueamento dos corais, tem um impacto direto na biodiversidade marinha.

Após episódios de branqueamento massivo na Grande Barreira de Coral australiana, os peixes-limpadores sobreviventes apresentavam perdas significativas de competências comportamentais, incluindo dificuldade em lidar com múltiplos “clientes” ou em reconhecer predadores. Apesar da recuperação física dos recifes, os comportamentos anteriores não voltaram: uma evidência de que os impactos cognitivos podem perdurar mesmo após a regeneração dos ecossistemas.

A equipa de José Ricardo Paula está agora a estudar esta problemática em recifes naturais, através da criação de unidades experimentais em alguns recifes, onde irá introduzir peixes com diferentes desempenhos cognitivos para avaliar os efeitos na biodiversidade. Caso se confirme que a presença de indivíduos mais “inteligentes” contribui para a saúde dos ecossistemas, esta abordagem poderá abrir portas a novas estratégias de conservação, focadas não apenas na preservação das espécies, mas também da “cultura” e dos comportamentos que sustentam a sua função ecológica.

Além do apoio da Fundação “la Caixa”, o trabalho de José Ricardo Paula tem sido reconhecido por diversas entidades, incluindo a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), através do Science Award Atlântico.

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