José Carlos Ferreira em entrevista ao Diário de Notícias

Num momento em que os municípios iniciam um novo ciclo de governação, o investigador do MARE José Carlos Ferreira, deixa um alerta: a resposta à crise da habitação não pode ser feita à custa da mobilidade, do ambiente e da coesão urbana.

Para o especialista em ordenamento do território, é urgente retomar uma visão integrada das cidades. A concentração no problema da habitação, embora compreensível e necessária, tem deixado de lado outros aspectos essenciais ao funcionamento urbano. 
 
A crise habitacional, impulsionada por novas dinâmicas de procura — nomeadamente associadas ao turismo, nómadas digitais e investimento internacional — retirou foco a outras prioridades, como o planeamento urbano sustentável ou o combate às alterações climáticas nas áreas urbanas.
 
José Carlos Ferreira destaca que a construção em massa pode aliviar uma parte do problema a curto prazo, mas levanta riscos sérios se não for acompanhada por uma estratégia que tenha em conta os impactos no território.

Além da habitação, a mobilidade é outro tema central. A sobrecarga rodoviária nas áreas metropolitanas, a falta de transporte público de qualidade em algumas zonas e a dependência do automóvel individual mostram que as cidades continuam pouco adaptadas às exigências de uma mobilidade sustentável e acessível.

“A cidade dos 15 minutos”, que propõe serviços e equipamentos próximos de quem vive, pode ser um caminho. Mas exige um planeamento de ordenamento do território inteligente, que evite deslocações longas e promova uma maior qualidade de vida.

José Carlos Ferreira aponta ainda para a necessidade de recuperar e reabilitar os centros urbanos, de forma a garantir o acesso da classe média à cidade. 

No contexto das alterações climáticas, o investigador alerta que os riscos estão a aumentar, e que as cidades portuguesas continuam pouco preparadas para fenómenos extremos como cheias ou ondas de calor. 

Por fim, José Carlos Ferreira sublinha que é essencial investir em políticas públicas capazes de criar soluções sustentáveis e inclusivas, e conclui reforçando a importância de envolver os cidadãos nos processos de planeamento e gestão das cidades.

 

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