Graça Martinho no jornal Público "Portugal falha nas políticas para a redução de resíduos"

No Dia Internacional do Resíduo Zero, foram vários os especialistas que chamaram à atenção para o problema crescente do lixo em Portugal e para a urgência de agir. A data, criada pelas Nações Unidas, serve para lembrar a importância de produzir menos resíduos e de os tratar de forma correta. 

A investigadora do MARE Graça Martinho, alerta que Portugal está longe de cumprir as metas europeias para reduzir e reciclar o lixo. Apesar de haver leis e planos europeus para melhorar esta situação, como a chamada "economia circular", que incentiva a reutilização e reciclagem, os resultados em Portugal continuam fracos.

Entre 2013 e 2020, a quantidade de lixo urbano (aquele que produzimos em casa ou nas cidades) aumentou cerca de 15%. Em 2023, foram produzidas mais de 5 milhões de toneladas de lixo, praticamente o mesmo que no ano anterior.

Um dos maiores problemas é que a maioria do lixo ainda vai parar ao contentor errado. Em 2023, 76% do lixo foi colocado nos contentores indiferenciados (o do “lixo normal”) e acabou muitas vezes em aterros sanitários — locais onde o lixo é enterrado. Só 32% foi reciclado, quando a meta para 2025 é de 55%.

Segundo Graça Martinho, é urgente mudar a forma como recolhemos e tratamos o lixo. Para isto, a investigadora sugere:

  • Separar melhor o lixo, incluindo restos de comida e de jardim (os chamados biorresíduos), algo que já deveria estar a funcionar desde 2023;
  • Criar um sistema de pagamento justo, onde se pague consoante a quantidade de lixo que se produz (chamado PAYT – Pay-as-you-throw), ao invés de pagar com base no consumo de água, como acontece agora;
  • Lançar o sistema de devolução de embalagens, como garrafas de plástico e latas, que permitiria às pessoas receberem dinheiro de volta ao entregarem esses materiais. Este sistema está previsto para 2026, mas já está com quatro anos de atraso;

 

Nos últimos anos, os investigadores do grupo de resíduos do MARE estão a colaborar com entidades públicas para criar planos e ferramentas que ajudem a melhorar a forma como tratamos o lixo. Um exemplo é o projeto Pack4Sustain, que ajuda empresas a criarem embalagens mais ecológicas e fáceis de reciclar.

Mas, como diz a especialista, nada disto será suficiente sem uma mudança na forma como consumimos e produzimos. Para a investigadora, é preciso criar produtos que durem mais, produzir menos lixo e aprender a ver os resíduos como recursos que podem ser reutilizados ou reciclados.

 

Leia o texto de opinião da investigadora AQUI