Turismo de Observação Cetáceos no Algarve Afeta Comunicação e Comportamento dos Golfinhos

A investigadora do MARE Joana Castro, é coautora do estudo “Influence of Dolphin-Watching Tourism Vessels on the Whistle Emission Pattern of Common Dolphins and Bottlenose Dolphins”, que analisa o impacto dos barcos turísticos nas vocalizações dos golfinhos do Algarve. 

Nos últimos anos, a costa algarvia tem registado um aumento significativo na atividade de barcos de observação de golfinhos, um setor que contribui consideravelmente para o desenvolvimento socioeconómico da região. No entanto, apesar de trazer vários benefícios para a economia local, o tráfico, pode ter impactos negativos nas comunidades biológicas e nos habitats marinhos, como a redução da biodiversidade e a alteração de comportamento dos animais. O ruído subaquático gerado pelas embarcações é particularmente prejudicial para os golfinhos, cujas vocalizações desempenham um papel essencial na comunicação e nas interações sociais.

Os golfinhos produzem uma grande variedade de sons vocais e não vocais que utilizam para se orientarem, explorarem o ambiente, interagir com outros membros do grupo, caçar e detectar predadores. As vocalizações tonais, como os assobios, são especialmente importantes para a coesão social, pois permitem que os golfinhos se reconheçam e mantenham contato físico e vocal. 

Neste contexto, uma equipa de investigadores, na qual integra a investigadora do MARE Joana Castro, procurou perceber de que modo o ruído provocado por embarcações de observação de cetáceos, está a afetar as vocalizações dos golfinhos comum e roaz. A investigação, que decorreu entre junho e setembro de 2022 revelou mudanças significativas nas características dos assobios dos golfinhos com a presença de barcos. Mais especificamente, as frequências iniciais, baixas e altas, aumentaram, enquanto o número de pontos de inflexão nos assobios modulados diminuiu. Estas alterações podem interferir na eficácia da comunicação entre os golfinhos, prejudicando a coesão social e a sobrevivência da população.

Para além disto, observou-se que as respostas comportamentais de curto prazo dos golfinhos ao ruído subaquático de origem antropogénica, incluem um aumento da coesão do grupo, maior duração dos mergulhos e alterações no comportamento de viagem. Foram também observadas mudanças nos padrões respiratórios e comportamentais à superfície, com uma diminuição do tempo que os golfinhos passam à superfície após a aproximação das embarcações. Entre os efeitos observados estão a redução dos comportamentos aéreos e a interrupção das atividades de alimentação, sociais e de repouso.

Os resultados do estudo apontam para um impacto potencialmente negativo do aumento do turismo de observação de golfinhos na viabilidade das populações locais de cetáceos, o que destaca a necessidade urgente de implementar estratégias de mitigação eficazes. Estas deverão incluir regulamentos mais rigorosos e um maior monitoramento das atividades turísticas, com o objetivo de proteger a comunicação e o comportamento dos golfinhos na região algarvia.
Este estudo sublinha a importância de equilibrar o desenvolvimento do turismo marítimo com a preservação dos ecossistemas marinhos, garantindo a sustentabilidade das populações de golfinhos e a saúde do ambiente marinho na costa do Algarve.

 

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