Espécies invasoras e perda de biodiversidade: investigação do MARE em destaque no Biosfera

Investigadores do MARE explicam, no programa Biosfera, o impacto da perca-europeia nas populações nativas.  

O episódio do programa Biosfera de 18 de outubro de 2025, transmitido na RTP2, incidiu sobre os impactos da simplificação trófica dos ecossistemas, referindo como a diminuição acentuada das populações de animais selvagens e a extinção de espécies-chave estão a simplificar as cadeias tróficas, tornando os ecossistemas mais vulneráveis ao colapso.

Uma das razões para a perda de biodiversidade está na proliferação de espécies invasoras nos ecossistemas aquáticos. Diogo Dias, investigador de doutoramento no MARE, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS), destacou os resultados dos estudos realizados na barragem de Meimoa, no distrito de Castelo Branco, onde as espécies nativas estão a ser progressivamente substituídas por invasoras.
“A barragem era conhecida pela forte presença da boga-portuguesa, mas atualmente está a ser dominada por espécies invasoras”, explicou o investigador, referindo-se à expansão da perca-europeia (Perca fluviatilis), uma espécie originária da Europa Central introduzida em Portugal para a pesca desportiva.

Segundo o investigador, esta espécie apresenta crescimento rápido e capacidade de reprodução precoce, o que lhe confere uma vantagem competitiva face às espécies autóctones.
“As percas estão a crescer ao dobro da velocidade observada na sua área nativa. Um peixe com dois anos já pode ter 30 ou 40 centímetros e começa a reproduzir-se logo no final de janeiro, mais cedo do que nas suas regiões de origem”, acrescentou.

A equipa do MARE tem estudado a estrutura etária, a fecundidade e a dieta desta espécie para compreender o seu impacto nas comunidades locais.

“Abrimos as percas e estudamos os órgãos para perceber o que estão a predar e se estão a ter impacto nas comunidades nativas. Num dos exemplares que analisámos, encontrámos três peixes nativos e um anfíbio no estômago”, explicou o investigador.

Os resultados sugerem que a presença crescente da perca-europeia poderá estar a alterar o equilíbrio trófico e a qualidade da água nestes sistemas.
“Temos notado que a água está a ficar um pouco mais turva. Não sabemos se podemos atribuir isso à perca, mas é possível que esta espécie esteja a exercer pressão sobre a boga, que, ao diminuir, deixa de consumir algumas algas da barragem, o que pode estar a piorar a qualidade da água”, explicou Diogo Dias.

O episódio sublinhou, ainda, que os ecossistemas de água doce estão entre os mais ameaçados do planeta. De acordo com um relatório da WWF citado no programa, as populações de vida selvagem monitorizadas no mundo diminuíram, em média, 73% nos últimos 50 anos. O declínio mais acentuado ocorre nos ecossistemas de água doce (85%), seguido pelos terrestres (69%) e pelos marinhos (56%).

Ao longo do episódio do programa Biosfera foram abordadas diferentes dimensões da biodiversidade, desde a perda de diversidade genética e a diminuição de populações de aves e plantas nativas, até à transformação de habitats agrícolas e de água doce. Em comum, os testemunhos sublinharam a necessidade de compreender os processos ecológicos que sustentam a vida e a ação necessária para travar a degradação dos ecossistemas.

A presença do MARE no programa reflete, uma vez mais, a importância do trabalho desenvolvido pelo centro de investigação na monitorização e na gestão sustentável dos ecossistemas aquáticos. Através de estudos como o conduzido pela equipa que o Diogo Dias pertence, o MARE contribui para a identificação de ameaças emergentes, como as espécies invasoras, e para a produção de conhecimento que apoia políticas públicas de conservação e o uso responsável dos recursos hídricos.

 

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Texto de Vera Sequeira