Lampreia do Sado em risco de extinção: população caiu 40% em pouco mais de uma década

Nos últimos meses têm sido vários os avisos de especialistas para o declínio acentuado das populações de lampreia no rio Mondego. Apesar dos grandes esforços de conservação que têm sido realizados localmente, este é um problema que afeta toda a Península Ibérica, e que agora, se faz sentir também no rio Sado. 

A lampreia do Sado, é uma espécie endémica da região, de água doce, e que atualmente pode ser encontrada em apenas dois cursos de água da bacia hidrográfica. “A lampreia do Sado sofreu um decréscimo da sua população, entre 2009 e 2022, na ordem dos 40 por cento e dentro de 100 anos estimamos que possa ter desaparecido 80 por cento do seu efetivo total”, disse ao Semmais a investigadora do MARE Catarina Mateus.

Quando se iniciaram os estudos desta espécie de lampreia, a equipa de investigadores liderada pelo diretor do MARE Pedro Raposo de Almeida, concluiu que existiam 103 animais a habitar alguns troços da Ribeira da Marateca. Mais tarde, foram descobertas populações residentes mais pequenas, nas ribeiras de São Martinho, do Moinho e de São Domingos.

Em 2016 a espécie já não foi detectada em São Domingos e há cerca de três anos, quando se fizeram novos trabalhos no terreno, também já havia desaparecido de São Martinho. Apesar disso, segundo Catarina Mateus, " a população mantém-se estável na Marateca”.

Possíveis explicações para este declínio incluem a perda de habitat para o estabelecimento de terrenos agrícolas. “a pressão humana sobre o habitat é determinante”, começa por explicar a investigadora. “As larvas vivem muito tempo enterradas nos fundos arenosos. Quando estes são remexidos é evidente que aumentam as possibilidades de muitas morrerem. Além destes aspetos, também a captação excessiva de água, as descargas poluentes, os açudes que impedem a circulação, a não regularização das linhas de água e as alterações climáticas, que são muito expressivas na Bacia do Sado, contribuem para o declínio".

Apesar de serem conhecidas as causas para a elevada mortalidade da lampreia do Sado, ainda não foi implementada nenhuma medida oficial. “Quando se faz extração de areia tentamos estar presentes, para podermos salvar o maior número de larvas, mas a verdade é que não existe uma medida específica de proteção”, refere Catarina Mateus.

Para fazer face ao problema, a solução poderá passar pela reprodução de lampreias em cativeiro. “Para já não existe um plano de gestão em curso, mas já se efetuaram estudos e já se recolheu informação para desenvolver o plano de recuperação”, conclui a investigadora.

 

Fotografias de Filipa Silva