Investigadores do MARE demonstram como piolhos, moscas, pulgas e ácaros afetam a saúde e o sucesso reprodutivo de chapins

Investigadores do MARE participaram num estudo internacional que revela como a presença de parasitas nos ninhos podem prejudicar a saúde, o crescimento e até a reprodução de aves silvestres. O artigo, intitulado “Drivers and consequences of nest ectoparasite pressure in tit nestlings”, foi publicado na revista científica International Journal for Parasitology: Parasites and Wildlife e conta com a coautoria de Catarina G. Cascão, Inês Vilhena, Ana Rita Cabral, Fábio Marengo, Joana Girão, Jaime Ramos e Ana Cláudia Norte.  

O estudo decorreu no centro de Portugal, onde os investigadores acompanharam duas espécies de aves bastante comuns no nosso país – o chapim-real (Parus major) e o chapim-azul (Cyanistes caeruleus) – que criam os seus filhotes em caixas-ninho. Durante duas épocas de reprodução, foram analisadas dezenas de ninhos quanto à presença de ectoparasitas, como piolhos, moscas varejeiras, pulgas e ácaros, assim como os efeitos que estes causam nos crias e nas condições dos ninhos.
Os resultados são claros: os parasitas impõem custos sérios às aves.  As crias de Chapim que cresceram em ninhos com maior número de moscas varejeiras mostraram sinais de anemia e apresentaram um crescimento mais lento. Já os ninhos infestados com ácaros parasitas obrigatórios estavam associados a alterações sanguíneas e, no caso do chapim-azul, a uma menor probabilidade de as fêmeas colocarem ovos.

As pulgas também tiveram um impacto negativo: os filhotes de chapim-real oriundos de ninhos infestados mostraram alterações no sangue que indicam um stress fisiológico.

Além dos efeitos diretos nas crias, o estudo identificou fatores que aumentam ou reduzem a infestação por parasitas. A reutilização das caixas-ninho, por exemplo, foi associada a maior presença de moscas e ácaros. Ninhadas iniciadas mais tarde na época reprodutiva também enfrentaram níveis mais altos de infestação. Por outro lado, ninhos com certos tipos de insetos – como coleópteros da família Staphylinidae e pequenos artrópodes Collembola – apresentaram menos ácaros, sugerindo o estabelecimento de interações ecológicas mais complexas no interior dos ninhos.

Curiosamente, os materiais antropogénicos, como plásticos e fibras sintéticas usados pelas aves na construção dos ninhos, mostraram-se associados a uma redução do número de pulgas nos ninhos de chapim-real, embora também tenham atraído outros tipos de insetos.

Este estudo fornece uma visão aprofundada das pressões que os parasitas impõem às aves que nidificam em cavidades e destaca a importância de práticas de conservação mais informadas, como a gestão cuidadosa das caixas-ninho usadas em programas de monitorização e apoio à avifauna.

Ao mostrar os efeitos fisiológicos e comportamentais do parasitismo nos filhotes e nos adultos, a investigação reforça o valor de compreender a ecologia destes sistemas naturais e contribuir para a proteção das aves em ambientes cada vez mais influenciados pela ação humana.

 

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