Fragilidade de peixe endémico do baixo Tejo revelada através de um estudo genético

Classificado como “Em Perigo” no Livro Vermelho dos Peixes de Portugal, a boga-de-boca-arqueada-de-lisboa (Iberochondrostoma olisiponense) é uma espécie de água doce que se encontra apenas no troço inferior do Rio Tejo e seus afluentes, particularmente em alguns pauis (zonas húmidas interiores) e cursos de água de baixa corrente. 

Um novo estudo publicado na revista Scientific Reports, com a participação de investigadores do MARE/ARNET, CE3C e CIBIO-InBIO, analisou a diversidade genética espacial e temporal desta espécie, revelando dados cruciais para a sua conservação.

Atualmente, as populações conhecidas estão limitadas a quatro locais: Rio Trancão, Ribeira de Muge, Rio Tejo e Ribeira de Cabanas. São populações pequenas, geneticamente pouco diversas e cada vez mais isoladas. O estudo mostra que houve troca de reprodutores entre populações no passado, mas que hoje são raras ou inexistentes, existindo um forte isolamento da população do Rio Trancão, na várzea de Loures.

Segundo os autores, este isolamento dever-se-á a grandes mudanças no habitat. Algumas foram naturais, como as variações do nível do mar que alteraram o leito do Rio Tejo ao longo de milhares de anos. Outras serão resultado direto da ação humana, como a construção de barragens, a artificialização dos rios e a drenagem de habitats para agricultura. Estas transformações reduziram drasticamente os locais onde a espécie pode viver. 

“Esta é uma espécie que ocorre unicamente em zonas húmidas de água doce, ou em habitats com pouca corrente, vegetação densa e fundos sedimentares (areias e vasas). São estas áreas que estão a desaparecer devido ao aterro de alguns pauis e à sobre-exploração dos lençóis freáticos para a agricultura, acabando por levar à extinção da espécie em áreas onde anteriormente ocorria”, explicam os investigadores. A pressão para transformar estas zonas em áreas de agropecuária também tem aumentado, como se verificou recentemente no Paul da Granja, em Vila Franca de Xira.

O estudo sublinha também a importância das zonas húmidas interiores como refúgios de biodiversidade ainda pouco conhecidos. A nova informação genética pode agora apoiar estratégias de conservação, essenciais para espécies raras e frágeis como esta.

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Texto de Carlos Santos, Ana Veríssimo, Filipe Ribeiro e Vera Sequeira