O MARE destaca a publicação do artigo " Identification of tuna species used by the Portuguese canning industry through a DNA-based approach " na revista Scientific Reports, pertencente ao grupo Nature. O estudo, liderado pela investigadora Ana Rita Vieira, contou ainda com a participação dos investigadores do MARE Maria Inês Silva e Leonel S. Gordo. 
Apesar de Portugal ser um dos maiores consumidores de atum enlatado per capita na Europa, pouco se sabia até agora sobre a composição das espécies utilizadas pela indústria de conservas nacional. A equipa de investigadores procurou colmatar esta lacuna, recorrendo a métodos de sequenciação molecular capazes de identificar com precisão as espécies presentes nos produtos enlatados.
Segundo Ana Rita Vieira, “Este estudo representa o primeiro retrato molecular abrangente da indústria conserveira de atum em Portugal, revelando não apenas quais espécies chegam ao consumidor, mas também os riscos associados a uma rotulagem imprecisa.”
O estudo revelou que o atum-bonito (Katsuwonus pelamis) é a espécie predominante em todas as marcas e tipos de conservas analisadas. No entanto, foram também detectadas outras espécies, nomeadamente Thunnus obesus, Thunnus albacares e Auxis spp., sendo que esta última não é considerada um "atum verdadeiro". Outro resultado relevante foi a detecção de múltiplas espécies dentro da mesma lata em quatro marcas distintas – uma prática que viola a legislação europeia em vigor.
“Ao identificarmos espécies de atum com estatuto de conservação e de espécies que não são verdadeiros atuns, demonstramos a importância de reforçar mecanismos de controlo para uma rotulagem precisa, de forma a garantir que o consumidor sabe exactamente o que está a comprar e a consumir”, começa por explicar Ana Rita Vieira. “A identificação de mistura de espécies na mesma lata evidencia incumprimentos face à legislação europeia em vigor e reforça a urgência de mecanismos mais robustos de rastreabilidade.”
Esta incongruência pode dever-se a estratégias de provisão, preferências do mercado ou à variabilidade sazonal da disponibilidade das espécies. De facto, a presença de espécies alternativas foi apenas observada em conservas produzidas no segundo trimestre do ano.
O trabalho agora publicado constitui a primeira avaliação abrangente das espécies utilizadas pela indústria de conservas de atum em Portugal. Para Ana Rita Vieira “A identificação rigorosa das espécies é um passo essencial para proteger stocks vulneráveis e assegurar a sustentabilidade da pesca do atum.”
A indústria conserveira portuguesa é uma referência histórica e económica. “Este estudo não pretende apontar falhas, mas sim fornecer informação científica sólida sobre a composição específica dos produtos disponíveis no mercado nacional, contribuindo para um debate mais informado sobre a utilização de recursos e práticas de rotulagem”, conclui.
Texto de Patrícia Carvalho
Fotografias do projecto de investigação