As marinhas-comuns Syngnathus acus estão de regresso a casa

As marinhas da Trafaria estão de regresso a casa, após um ano em alojamento de substituição.

Em março de 2022, depois do colapso do pilar e pontão na Trafaria, no Município de Almada, os investigadores do MARE resgataram um grupo de marinhas-comuns, peixes da família dos cavalos-marinhos, com estatuto de proteção. Foram recolhidas cinco marinhas e 23 cavalos-marinhos (quatro cavalos-marinhos comunsHippocampus hippocampus e 19 cavalos-marinhos-de-focinho-comprido Hippocampus guttulatus).

Em conjunto com a equipa do Oceanário de Lisboa, acolheram as espécies e mantiveram em condições especiais no Oceanário de Lisboa, tendo em vista a sua devolução à natureza quando as condições do habitat estivessem restauradas. A equipa do MARE-ISPA estudou esta comunidade de cavalos-marinhos e marinhas ao abrigo do protocolo CavALMar com a autarquia de Almada. Em conjunto com o Oceanário de Lisboa recolhemos cerca de 30 indivíduos de três espécies diferentes de Singnatídeos (cavalo-marinho de focinho comprido, cavalo-marinho comum e a marinha). Desde então temos estudado esta comunidade, quer ao nível da caracterização morfológica, da relação com o habitat, recolhemos amostras de DNA para análise futura, e estamos a fazer mergulhos em toda esta frente ribeirinha para identificar possíveis ameaças e/ ou locais adequados para estas espécies. Este é um grupo de organismos protegidos por leis nacionais (decreto-lei nº 38/ 2021) e internacionais (anexo II da Convenção CITES, no anexo II da Convenção de Berna e resolução WCC-2020-Res-095 no congresso da UICN), e são consideradas espécies-bandeira, ou seja, são organismos que reúnem a simpatia do público em geral, e ao estarmos a promover ações de conservação dirigidas a estes organismos e ao seu habitat estamos indiretamente a promover a conservação como um todo, beneficiando muitas outras espécies", explica o investigador do MARE Gonçalo Silva.

Enquanto estavam a estudar esta comunidade, tinham um aquário isolado, onde recriaram condições como a flutuação da temperatura da água do local de origem, ou o fornecimento de alimento vivo na forma de misidáceos (pequenos crustáceos marinhos parecidos com o camarão), de modo a promover um comportamento alimentar semelhante ao que exibem no meio natural. Cada marinha foi medida e fotografada para identificação, tendo sido também recolhidas amostras para análise genética.

Um ano depois, todos estes novos peixes, juntamente com o grupo original de cinco indivíduos, foram reintroduzidos com sucesso no estuário do Tejo, numa operação conjunta do ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, e do Oceanário de Lisboa, com a colaboração do MARE-ISPA e da Câmara Municipal de Almada, parceiros no projeto de investigação CavAlMar. Esta foi uma ação conjunta que visa "desenvolver esforços para a conservação dos singnatídeos, espécies icónicas e muito vulneráveis a perturbações antropogénicas, mas também na preservação dos valores naturais do estuário do Tejo", conclui o investigador do MARE.