No dia 1 de dezembro assinala-se o Dia da Antártida, a data em que, em 1959, foi assinado o Tratado da Antártida, que consagrou o continente como espaço dedicado à paz e à ciência. O MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente assinala a data com uma semana inteiramente dedicada às histórias e à investigação que as nossas equipas têm desenvolvido na Antártida. 
Ao longo dos últimos anos, investigadores de diferentes áreas científicas têm levado a ciência portuguesa até ao fim do mundo: estudam a base da cadeia alimentar, procuram poluentes em ilhas remotas, seguem aves marinhas há duas décadas e levam o ordenamento do espaço marinho para a mesa das negociações internacionais. Muitos descrevem a Antártida como um ambiente em mudança e, ao mesmo tempo, como o lugar que melhor revela a fragilidade do planeta.
Para quem lá foi, a viagem começa muito antes de ver gelo. Catarina Guerreiro, investigadora do MARE/ARNET em Ciências ULisboa, passou semanas em preparação, que incluíram formação em segurança e suporte básico de vida, preparação do material e do equipamento a levar, dias de avião e travessias longas de navio até chegar ao destino final. O momento em que viu o primeiro iceberg ficou gravado para sempre, tal como o ataque de um grupo de orcas a uma baleia-de-minke que testemunhou em plena campanha científica, em que o mar se pintou de vermelho e as gaivotas se lançaram à água, disputando impacientemente cada fragmento de baleia.
Para Graça Sofia Nunes (MARE/ARNET em Ciências ULisboa), ir à Antártida foi “o” momento marcante de uma trajetória que a levou da tese de mestrado à publicação de um artigo na Communications Earth & Environment (Nature Portfolio). No seu trabalho, Graça utilizou séries temporais e dados de satélite para estudar os blooms de fitoplâncton no Mar de Ross, descobrindo que a base da cadeia alimentar responde de forma complexa às mudanças ambientais.
Bernardo Duarte (MARE/ARNET em Ciências ULisboa) não chegou a pisar o continente branco, mas preparou tudo para que o trabalho científico pudesse ser feito lá. Deslocou metade do laboratório para Cádis, onde o material foi embarcado no navio Hespérides, garantindo que as análises pudessem ser realizadas no terreno. O objetivo era estudar a Ilha Deception: um laboratório vivo, onde o vulcanismo ativo liberta mercúrio natural e onde começam a surgir sinais da presença humana com a deteção de fármacos oncológicos, drogas ilícitas e outros contaminantes.
Outros regressam, ano após ano, aos mesmos locais e às mesmas colónias. Há mais de duas décadas que Paulo Catry (MARE/ARNET no Ispa - Instituto Universitário) acompanha albatrozes-de-sobrancelha nas ilhas Falkland/Malvinas, revendo os mesmos casais e relacionando o sucesso das crias com anos mais frios ou anos mais quentes.
Na frente da governança, a equipa de Catarina Frazão Santos (MARE/ARNET em Ciências ULisboa) fez chegar, pela primeira vez, o tema do ordenamento do espaço marinho às reuniões do Tratado da Antártida, mostrando que gerir um oceano em rápida transformação exige regras claras sobre onde se pode e onde não se pode realizar determinadas atividades, e que a Antártida não deve ser uma exceção.
Ao longo desta semana, o site e as redes sociais do MARE vão mergulhar nestas histórias. Em cada dia, um tema. Em comum, as várias perspetivas mostram que, apesar de distante, a Antártida está ligada ao nosso quotidiano.
Como resumem os investigadores, “o que acontece na Antártida não fica na Antártida”. O que fazemos aqui chega lá, e o que se altera lá afeta-nos a todos.
Texto de Vera Sequeira e Joana Cardoso