MARE participa na maior expedição científica ao mar profundo da Madeira

Começa hoje, 9 de fevereiro, a expedição científica "JellyWeb", ao mar profundo da Madeira. Esta expedição internacional com especialistas de diferentes áreas de investigação parte do porto do Funchal para explorar os habitats subaquáticos e a biodiversidade em volta da ilha. Bastante exclusiva, é a quinta expedição do género dos últimos 50 anos, na região.

Coordenada pelo GEOMAR Helmholtz Centre for Ocean Research Kiel, a expedição conta com a participação de referências como o Smithsonian Institution’s National Museum of Natural History, a Universidade do Sul da Dinamarca e a Universidade de Hamburgo. A Unidade Regional de Investigação do MARE-Madeira/ARDITI é o único parceiro português.

A bordo do RV Maria S. Merian, 22 investigadores utilizarão instrumentos e tecnologia de ponta, incluindo deteção remota, sistemas de câmaras, um robô de profundidade, sensores oceanográficos e várias redes, para atenuar o desconhecimento acreca da biodiversidade e as teias alimentares do mar profundo. "Utilizaremos ecossondas e câmaras para cartografar três áreas em torno da ilha da Madeira", explica o Dr. Henk-Jan Hoving, co-líder da expedição, "um desfiladeiro de profundidade, um extenso planalto submarino e uma crista submarina, desde profundidades de 50 m até 3000 m". O sistema de fotografia e vídeo XOFOS (Ocean Floor Observing System) filmará e fotografará o fundo do mar para efeitos de cartografia. O sistema de câmaras de profundidade PELAGIOS (Pelagic in Situ Observation System), equipado com uma câmara, fontes de luz e sensores para medir dados ambientais, pode ser utilizado dia e noite em águas abertas para documentar organismos que vivem no seu ambiente natural. Dr. Hoving: "Esperamos encontrar habitats nunca antes descobertos, como jardins de corais ou recifes de profundidade, e voltaremos a essas áreas para recolher amostras".

"O mar profundo em torno da Madeira é o menos explorado na Macaronésia (grupos de ilhas no Atlântico Norte, perto da Europa e de África). Sabemos que é essencial para o ciclo do carbono e para os ciclos dos nutrientes que sustentam a vida subaquática (e também na terra) e são estes ciclos que mitigam as alterações climáticas, mas também sabemos que são águas permanentemente ameaçadas pela pressão humana e pelo aumento das temperaturas. Expedições científicas de fundo são essenciais para o alargamento de conhecimento e para o desenvolvimento de estratégias proteção para estes sistemas”, refere João Canning-Clode, coordenador do MARE-Madeira.

 

“Uma das prioridades desta expedição é compreender o papel das alforrecas na cadeia alimentar oceânica. Por serem muito frágeis e difíceis de capturar intactas, são para nós um enigma”, explica João Canning-Clode. Com recurso aos instrumentos a bordo, os investigadores procurarão alargar o seu conhecimento sobre as alforrecas e outros seres, ao mesmo tempo que acarretam a esperança da descoberta de novas espécies.

As alforrecas são espécies muito difíceis de estudar – por se tratar de um processo minucioso, o ato da captura está quase sempre comprometido. Sabe-se, por isso, pouco sobre o seu impacto no ecossistema e na teia alimentar. Esta dificuldade é particularmente real no caso das águas profundas onde, para além das alforrecas, ainda existe muito por explorar.

 

A JellyWeb foi o foco do projeto GoJelly da UE Horizonte 2020, que desenvolveu a ideia para a expedição MSM126. Os seus resultados serão agora utilizados no projeto de geminação da UE TWILIGHTED, no qual cooperarão a GEOMAR e a Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU), coordenado por João Canning-Clode da ARDITI Madeira.

 

Como vai beneficiar Portugal desta expedição?

Com cerca de um mês de duração, esta jornada é uma das 5 expedições de alto mar com vista ao estudo das águas da Madeira nos últimos 50 anos. Na região, é também a viagem mais longa até hoje e por isso uma excelente oportunidade para ficarmos a saber mais sobre habitats únicos no fundo do mar e sobre as espécies que habitam ao redor da ilha.

Esta expedição permitirá, ainda, posicionar a Madeira, reforçar parcerias internacionais e apostar no desenvolvimento de experiências, na captação de investimento e na criação de novas oportunidades.

 

Saiba mais sobre esta expedição na entrevista de João Canning-Clode e Jan Dierking à RTP Madeira.