A investigadora do MARE Raquel Vasconcelos liderou um estudo pioneiro na área da biologia acústica: demonstrou como o processamento das vocalizações, se desenvolve em paralelo com a produção de sons numa espécie de peixe. 
Uma questão fundamental à compreensão dos sistemas de comunicação acústica, é a forma como o processamento auditivo de desenvolve relativamente à diferenciação vocal. Embora já tenha sido estudado o desenvolvimento do processamento auditivo de vocalizações em espécies de aves, esta é uma área ainda inexplorada no grupo dos peixes. Por essa razão, uma equipa de investigadores do MARE liderada pela investigadora Raquel Vasconcelos realizou o primeiro estudo neste grupo de amimais, utilizando o peixe-sapo-lusitano (Halobatrachus didactylus) como modelo.
O peixe-sapo-lusitano, também chamado de Xarroco, é bastante conhecido pela sua capacidade de emitir uma grande variedade de sons, como assobios, grunhidos e coaxos, que utiliza para atrair as fêmeas ou prevenir outros machos que tentem invadir o seu território. Como tal, com base na técnica de registo do potencial evocado auditivo (que permite avaliar a resposta elétrica do cérebro a sons transmitidos pelos nervos auditivos), a equipa avaliou as diferenças na representação auditiva de diversos sons: Assobios (chamadas reprodutivas, agonísticas e juvenis) e grunhidos territoriais entre grupos de peixes de tamanhos diferentes.
Os resultados mostraram melhorias claras no desenvolvimento de latência, duração e detecção da modulação de amplitude destes chamamentos ao longo das fases da vida do peixe, indicando que os Xarrocos têm a capacidade de refinar a discriminação auditiva de sinais sociais através da ontogenia.
"O processamento auditivo desempenha um papel crítico na comunicação social, pois permite que os animais extraiam, interpretem e respondam a características complexas de sinais que transmitem informações sobre a qualidade individual, motivação e escolha de parceiros", explicou Raquel Vasconcelos ao MARE. " Estas descobertas sugerem que tal mecanismo é conservado entre os vertebrados vocais, aumentando assim nossa compreensão de como os sistemas de comunicação evoluem e se desenvolvem entre os taxa."
Em suma, este estudo representa um avanço significativo na compreensão dos mecanismos de comunicação acústica nos peixes, abrindo novas perspetivas para o estudo comparativo da neurobiologia da comunicação animal, reforçando o papel dos peixes como modelos essenciais para desvendar as origens evolutivas da comunicação sonora.
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Texto de Patrícia Carvalho