ARNET reforça conhecimento sobre invasões biológicas: Península Ibérica entre as regiões mais afetadas do mundo

Investigadores do ARNET contribuem para o estudo mais abrangente sobre espécies não-nativas alguma vez realizado na Península Ibérica.  

Um novo estudo publicado a revista Diversity and Distributions confirma a Península Ibérica como um dos principais pontos críticos de invasões biológicas a nível mundial, revelando a presença de 1273 espécies não-nativas estabelecidas em Portugal, Espanha, Andorra e Gibraltar.

O trabalho, que envolveu uma equipa internacional e contou com a participação de investigadores do Laboratório Associado ARNET – Rede de Investigação Aquática, oferece a avaliação mais completa até à data sobre a dimensão e o impacto das espécies exóticas na região.

Os resultados revelam que Portugal conta com 616 espécies não-nativas e Espanha com 1034, abrangendo sobretudo plantas vasculares, insetos, crustáceos, moluscos e outros invertebrados. Muitas destas espécies terão sido introduzidas acidentalmente, através do comércio internacional, da horticultura ornamental, da aquariofilia e do transporte de mercadorias, processos que facilitam a dispersão de organismos entre ecossistemas.

As zonas urbanas e costeiras, como Lisboa, Coimbra, Catalunha e Andaluzia, surgem entre as áreas com maior densidade de espécies exóticas, refletindo a influência da atividade humana e das trocas comerciais. O estudo sublinha ainda a importância de reforçar as medidas de prevenção e deteção precoce, promovendo respostas rápidas e coordenadas baseadas em ferramentas como o ADN ambiental, a ciência cidadã e a cooperação internacional entre países ibéricos.

Os investigadores destacam que as invasões biológicas são hoje uma das principais ameaças à biodiversidade global, exigindo uma abordagem integrada que combine ciência, gestão e políticas públicas eficazes. O trabalho fornece uma base científica sólida para orientar estratégias de conservação e apoiar decisões informadas em matéria de gestão dos ecossistemas aquáticos e terrestres.

O estudo contou com a participação de Filipe Ribeiro (MARE/ARNET em Ciências ULisboa), Ronaldo Sousa (CBMA/ARNET na Universidade do Minho) e Pedro Anastácio (MARE/ARNET na Universidade de Évora).

Os resultados reforçam a relevância da investigação desenvolvida no âmbito do ARNET, que integra o MARE, o CBMA e o CIMA, e cuja missão passa por produzir conhecimento científico que apoie políticas públicas, promova a sustentabilidade dos ecossistemas aquáticos e contribua para uma gestão informada dos recursos naturais. Este estudo é um exemplo claro de como a ciência colaborativa pode responder de forma integrada aos grandes desafios ambientais que enfrentamos.

O trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), através do apoio ao Laboratório Associado ARNET (LA/P/0069/2020) e aos projetos InvaSTOP, MULTI-CRASH e MEGAPREDATOR, que aprofundam o conhecimento sobre espécies invasoras e desenvolvem soluções de gestão mais eficazes.

Artigo completo: Diversity and Distributions

 

Texto de Vera Sequeira

Fotografia de Ronaldo Sousa