No estuário do Tejo, onde a água doce do rio se encontra com a salgada do oceano Atlântico, ergue-se o Farol do Bugio. É neste ponto de fronteira que nasce a Rádio-Estação do Bugio, uma estação de rádio experimental que, entre agosto e setembro de 2025, transmite paisagens sonoras ao vivo e conversas com cientistas, artistas, ativistas e historiadores envolvidos no cuidado e observação deste território marinho. Num desses episódios, a convidada foi Vanda Brotas, professora catedrática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e investigadora do MARE/ARNET, com uma longa carreira no estudo do fitoplâncton e na observação da cor do oceano a partir do espaço.
Sobre o tema “Fitoplâncton e Satélites: Observando o Invisível no Tejo”, Vanda Brotas leva-nos pelo universo microscópico das microalgas que sustentam a vida marinha. Fala sobre o papel destas comunidades como base da cadeia alimentar e como reguladoras de ciclos essenciais, como o do carbono e do oxigénio. Explica de que forma as imagens de satélite revelam padrões sazonais e ambientais que, sem esta tecnologia, passariam despercebidos, permitindo compreender melhor a dinâmica do estuário do Tejo.
Ao longo da conversa, a investigadora sublinha a importância de programas de monitorização continuada, como o que coordena no Tejo há mais de 25 anos, e dá-nos conta tanto das limitações como das enormes vantagens da observação remota: “Os satélites mostram apenas a superfície. Para saber o que acontece por baixo, é preciso combinar essas imagens com medições diretas no local. Foi uma sorte ver esta tecnologia avançar tanto, pois hoje permite observar o fitoplâncton a partir do espaço, perceber o que está a mudar no oceano e avaliar até que ponto a ação humana o está a afetar.”
O episódio, gravado no âmbito da residência artística A Call to the Sea e do projeto europeu Bauhaus of the Seas Sails, abre também espaço para refletir sobre futuros possíveis. Ao imaginar um cenário no qual o Farol do Bugio se transforma numa estação submersa, Vanda Brotas lembra que o fitoplâncton continua a cumprir o seu papel vital: “Mesmo daqui a 300 anos, haverá luz, nutrientes e fotossíntese. O que pode não continuar é a nossa qualidade de vida, e é isso que deve preocupar-nos.”
Criada pelos artistas Diana Policarpo e Bernardo Gaeiras, a Rádio-Estação do Bugio mistura ciência e arte para dar a conhecer a vida invisível do estuário, reunindo sons marinhos, pulsações atmosféricas e testemunhos humanos e não humanos. O episódio com Vanda Brotas é um convite a observar o Tejo e o oceano com atenção renovada, curiosidade e sentido de responsabilidade.
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Texto de Vera Sequeira