De Helsínquia a Lisboa: jovens finlandeses cruzam-se com a ciência do MARE

Cinco estudantes finlandeses vieram a Lisboa com uma missão: trazer a sua ideia para um mundo mais sustentável e trocá-la por inspiração. Acompanhados por Katariina Tonttila, da Children and Youth Foundation, visitaram no dia 17 de junho o MARE, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). A passagem por Lisboa integrou uma viagem de estudo oferecida aos vencedores do concurso nacional Spring, na Finlândia, que desafia jovens entre os 15 e os 19 anos a pensar soluções inovadoras para os problemas do presente. 

Os estudantes fazem parte da equipa Kalaheijastimet, cujo projeto propõe refletores ecológicos feitos com pele e escamas de peixe — uma forma criativa de aproveitar resíduos naturais para aumentar a segurança na estrada. A ideia nasce de uma necessidade muito real no seu país: na Finlândia, os dias são longos e luminosos no verão, mas no outono e inverno a escuridão chega cedo e permanece por muitas horas. O uso de refletores é, por isso, fortemente incentivado e mesmo obrigatório por lei como medida de proteção para peões. São pequenos objetos que fazem uma enorme diferença: aumentam drasticamente a visibilidade nas estradas e ajudam a salvar vidas.

No MARE, os alunos foram recebidos por duas equipas de investigação que lhes mostraram como a ciência também se inspira na natureza para criar soluções com impacto real.

No Laboratório de Bioadesão e Biomimetismo, a investigadora Romana Santos do MARE/ARNET na FCUL, com o apoio de Mário Rocha e Inês Caldeira, deu-lhes a conhecer o trabalho que desenvolve há anos com organismos marinhos. “Estudamos animais que vivem na zona entre marés, um ambiente extremamente desafiante. Estes organismos tiveram de evoluir formas de se fixar para não serem levados pelas ondas”, explicou. A resposta da natureza? Adesivos biológicos, compostos por proteínas e açúcares, que se colam com eficácia em ambientes húmidos e salinos, e que podem inspirar colas biodegradáveis e biocompatíveis para aplicações médicas.

Seguiu-se uma visita ao Laboratório Algoteca-Alisu que disponibiliza uma coleção viva de microalgas mantida pelo MARE e pela FCUL, com a coordenação de Ana Amorim e o apoio de Helena David e Luísa Dâmaso. Ali, os estudantes puderam observar ao microscópio várias espécies de de fitoplâncton marinho, conhecer os projetos que exploram a ecologia e biotecnologia das algas e até descobrir como estes organismos estão presentes, de forma invisível, no nosso dia a dia, desde alimentos a cosméticos. Uma imersão no mundo invisível que sustenta os oceanos e pode ajudar a responder a muitos dos desafios ambientais do nosso tempo.

No final das visitas, os estudantes apresentaram o seu projeto aos investigadores do MARE. A conversa que se seguiu tocou em desafios concretos: como eliminar o odor da matéria-prima sem perder as suas propriedades refletoras? Como tornar o produto mais viável e escalável? Romana Santos sugeriu que olhassem com mais atenção para o que confere às escamas de peixe essa capacidade de refletir a luz e pensassem em formas de a replicar sem depender diretamente do peixe. Um convite à criatividade, com base na ciência.

O encontro, breve mas marcante, foi mais do que uma troca de conhecimentos. Foi a prova de que ideias simples, quando cruzadas com investigação séria e pessoas dispostas a escutar, podem ganhar novas camadas de sentido. E talvez, quem sabe, também um novo brilho.

 

Texto de Vera Sequeira