Romana Santos no programa Antena 2 Ciência

A investigadora do MARE Romana Santos foi a mais recente convidada do podcast Antena 2 Ciência, onde falou sobre o seu projeto de criação de bioadesivos em laboratório para aplicações médicas e industriais.

Há muitos anos que a investigadora do MARE Romana Santos estuda a capacidade dos ouriços-do-mar sobreviverem em locais tão adversos como as zonas intertidais. Como explica a investigadora do MARE, estas zonas rochosas são ambientes bastante agressivos devido à rebentação das ondas e à subida e descida da maré. 

Para conseguirem sobreviver nestes locais os ouriços do mar produzem uma biocola que lhes permite não só, fixarem-se às rochas, como também alimentarem-se e até deslocarem-se. "Eles são herbívoros, portanto capturam pequenas algas raspando os dentes nas rochas. Esses dentes estão na zona oral em contacto com o substrato, ou então se houver algas em torno do animal, estes órgãos adesivos também as conseguem capturar, fixando-se a elas e depois vão encaminhando estas algas até à zona oral que está em contacto com o substrato", explica Romana Santos. Os ouriços do mar, "têm centenas destes órgão adesivos que coordenadamente levam o animal na direção onde o animal pretende, e que o fixam ao substrato".

Segundo a investigadora do MARE estas colas têm capacidades muito superiores a muitas colas sintéticas, sobretudo na presença de água e de sais. Para além disto, como os seus componentes não são derivados do petróleo, são componentes naturais como proteínas e açúcares, biocompatíveis e biodegradáveis.

"Depois de compreendermos de que forma é que esta cola funcionava no meio natural e animal, e de estudarmos várias espécies de ouriços do mar, utilizamos várias técnicas que existem atualmente, para conseguirmos descobrir que moléculas é que compõem estes adesivos." refere.  Ao longo de vários anos que a equipa de Romana Santos tem vindo a construir as suas próprias bases de dados de proteínas estudando também os seus açúcares. "Agora que conseguimos essa base de dados, estamos a conseguir selecionar algumas dessas proteínas adesivas mais importantes", e produzi-las em grandes quantidades extraindo-as diretamente dos animais utilizando bactérias como "fábricas". Desta forma, a investigadora consegue realizar os testes que pretende, testando se estas proteínas continuam a ser adesivas ou não, a sua estabilidade e a sua biocompatibilidade, em ambientes diferentes.

Quanto às aplicações, estas proteína poderão ser utilizadas como moléculas que ajudam as células a fixar-se em contexto laboratorial. Segundo a investigadora isto inclui a produção de células em laboratório que se possam fixar umas nas outras e proliferar, substituindo a experimentação em animais por tecidos e órgãos, e permitindo a produção de carne ou peixe em laboratório.

Para Romana Santos, a grande vantagem destas moléculas é que as suas capacidades adesivas de adaptam à alteração do meio em que se encontram. Isto significa que a partir da mesma molécula podemos vir a desenvolver adesivos com diferentes aplicações e com diferentes requisitos. "Estamos neste momento à procura de aplicações que sejam de mais fácil aprovação e cujo tempo para chegar ao mercado em tempo menor", conclui.

 

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