A investigadora do MARE Catarina Guerreiro, integrou recentemente a principal campanha oceanográfica do projeto europeu OceanICU – Improving Carbon Understanding, uma ambiciosa iniciativa financiada pelo programa Horizon Europe e liderada pelo centro de investigação norueguês NORCE. A expedição científica decorreu a bordo do navio de investigação RV Sarmiento de Gamboa, navegando desde Walvis Bay, na costa da Namíbia, até Las Palmas de Gran Canaria, cruzando o Atlântico Oriental.
A missão teve como principal objetivo investigar como diferentes processos oceânicos — como a sedimentação de partículas, a migração vertical do plâncton e a mistura da coluna de água — contribuem para o sequestro natural de carbono, através das chamadas bombas de carbono do oceano. Estas "bombas" desempenham um papel essencial na regulação do clima, ao capturarem carbono da atmosfera e armazená-lo nas profundezas oceânicas por longos períodos.
Um dos grandes destaques da campanha foi o estudo da influência da deposição de poeira atmosférica, proveniente dos desertos do Saara e do Namibe, sobre a produtividade biológica marinha e os ciclos biogeoquímicos do carbono. É precisamente nesta interface oceano-atmosfera que se insere o trabalho coordenado por Catarina Guerreiro, cuja participação foi central no estudo da Bomba de Carbonato, um dos mecanismos-chave de transporte de carbono no oceano.
Catarina liderou as operações de amostragem dedicadas ao estudo de organismos calcificantes — como os coccolitóforos, a sua principal área de investigação — que produzem conchas de carbonato de cálcio (CaCO₃). Estas conchas, ao afundarem, contribuem para a transferência de carbono da superfície para as profundezas marinhas. Foram recolhidas amostras de água do mar para análise de coccolitóforos, carbono inorgânico particulado e pigmentos fitoplanctónicos, além de amostras de zooplâncton calcificante através de redes de plâncton.
Para além disso, a investigadora colaborou numa série de experiências de fertilização com poeiras atmosféricas, desenvolvidas em conjunto com o IOCAG (Instituto de Oceanografia e Mudança Global, Universidade de Las Palmas de Gran Canaria) e a doutoranda Aja Trebec. Estas experiências testaram os efeitos de diferentes modos de deposição de poeira (seca e húmida) em comunidades fitoplanctónicas naturais, usando microcosmos de água recolhida em três regiões distintas do Atlântico tropical (Sul, Equatorial e Norte).
A bordo, a campanha contou com a participação de investigadores de instituições de excelência e estudantes de mestrado de várias nacionalidades, promovendo um ambiente colaborativo e de formação científica. A recolha de dados atmosféricos, químicos e biológicos foi pensada para ser integrada numa análise multiparâmetro, que permitirá compreender melhor como a variabilidade regional e a influência das poeiras afetam o papel do oceano como sumidouro de carbono.
Para além da investigação científica, a expedição ofereceu aos participantes uma vivência única no meio do oceano, incluindo a travessia do Equador — celebrada com o tradicional “Batismo Equatorial” — e a passagem pela Zona de Convergência Intertropical, onde as mudanças nas condições atmosféricas e oceânicas foram sentidas de forma marcante.
No seu conjunto, a campanha OceanICU representa um passo significativo no aprofundamento do conhecimento sobre o ciclo global do carbono e na melhoria dos modelos climáticos. O trabalho desenvolvido por Catarina Guerreiro e pelos restantes membros da equipa contribuirá para uma compreensão mais precisa do papel dos organismos marinhos calcificantes na regulação climática e para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de monitorização e mitigação das alterações climáticas.
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Fotografias de Catarina Guerreiro/CHASE