Decorreu nos dias 8 e 9 de abril a Jobshop Ciências 2025, a feira anual de emprego da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Trata-se de um fórum privilegiado de aproximação dos estudantes e graduados de Ciências ao mercado de trabalho.
Enquanto unidade de I&D da FCUL, o MARE esteve presente no segundo dia do evento tendo recebido dezenas de alunos de várias licenciaturas no seu espaço, que quiseram saber mais sobre o centro de investigação, o trabalho desenvolvido na unidade e as oportunidades existentes para voluntariado, estágios, teses e trabalho.
À sua espera estiveram os investigadores Sofia Nogueira, Christos Gkenas, Inês Pires e Filipa Silva que esclareceram todas as dúvidas e partilharam um pouco do seu trabalho enquanto investigadores. Quem os visitou teve a oportunidade de conhecer um pouco melhor o que tem sido feito no âmbito das espécies exóticas de rios, ecologia bentónica do estuário do Tejo, ecologia de peixes e conservação marinha. Levaram consigo um objeto utilizado no seu trabalho para servir de mote à interação.
Vem conhecê-los também!
A draga
Inês Pires, aluna de mestrado e investigadora do MARE | ARNET, está a desenvolver um trabalho sobre a monitorização de bentos nos estuários do Tejo, Sado e, em breve, na Lagoa de Óbidos. O projeto visa analisar as alterações nas comunidades bentónicas ao longo dos anos, com base em amostras recolhidas com a draga e ganchorra. Após a identificação, pesagem e medição dos organismos, é possível avaliar a evolução da biodiversidade e os impactos ambientais.
Parte do seu trabalho inclui estudar a introdução de espécies invasoras, como a ameijoa-japonesa, que tem alastrado pelos estuários. Segundo Inês, “Ao longo dos anos, a presença desta espécie tem aumentado consideravelmente, afetando negativamente as populações de espécies nativas”. A investigadora destaca a importância da monitorização contínua para avaliar a qualidade ecológica e compreender a evolução da biodiversidade marinha.
Durante a Jobshop Ciências 2025, Inês demonstrou o uso da draga para recolher amostras do fundo estuarino, permitindo capturar pequenos organismos que vivem no sedimento e que são analisados posteriormente. A recolha regular de amostras contribui para a criação de uma base de dados essencial para a avaliação de impacto ambiental e gestão sustentável dos ecossistemas marinhos.
A bomba de filtração de eDNA
Sofia Nogueira é investigadora no MARE | ARNET, onde aplica ferramentas moleculares para estudar espécies invasoras nos rios portugueses. O seu trabalho foca-se no ADN ambiental (eDNA), material genético deixado pelos organismos no ambiente, que permite uma deteção muito mais sensível do que os métodos tradicionais.
Esta abordagem é crucial para a identificação precoce de espécies invasoras e para localizar populações remanescentes de espécies ameaçadas. Sofia participou em projetos como o que identificou novas áreas de invasão da perca-europeia no centro de Portugal e o que encontrou populações do saramugo, uma espécie criticamente ameaçada, na bacia do Guadiana. Ela também contribuiu para estudos usando DNA metabarcoding para analisar a dieta de espécies invasoras, como a tilápia-de-Moçambique (em São Tomé) e o peixe-gato-europeu (no Tejo).
Na Jobshop Ciências 2025, Sofia apresentou a bomba de filtração eDNA, um equipamento portátil que permite recolher ADN diretamente da água dos rios, filtrando mais de 2 litros por minuto. “O eDNA está a revolucionar a forma como monitorizamos os ecossistemas aquáticos - conseguimos detetar espécies que antes nos escapavam, o que é essencial para uma gestão eficaz da biodiversidade”, explicou Sofia.
Vértebras de peixe-gato-europeu
Christos Gkenas é investigador do MARE | ARNET, com especialização em ecologia aquática e particular interesse nas consequências ecológicas das invasões biológicas. Utiliza metodologias inovadoras, como a análise de isótopos estáveis, para estudar o impacto das espécies invasoras nos ecossistemas de água doce, especialmente no que diz respeito às cadeias alimentares e à estrutura ecológica.
Na Jobshop Ciências 2025, apresentou projetos em curso no seu laboratório, como o LIFE-PREDATOR, financiado pela União Europeia, que visa mitigar os impactos do peixe-gato-europeu (Silurus glanis) através de sistemas de deteção precoce, gestão ecológica e ações de sensibilização.
Durante o evento, levou vértebras de peixe-gato-europeu de vários tamanhos, desafiando os visitantes a adivinhar o comprimento dos peixes. A maior correspondia a um exemplar com cerca de 2 metros. “Estas investigações ajudam-nos a compreender melhor o impacto das espécies invasoras e a encontrar formas eficazes de gerir e conservar os ecossistemas de água doce”, afirmou Christos.
O transmissor acústico e a boia com recetor
Filipa Silva, aluna de doutoramento e investigadora do MARE | ARNET, estuda o impacto das áreas marinhas protegidas (AMP) na biodiversidade e nas comunidades locais.
No Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, Filipa junta-se a pescadores para realizar pescas experimentais dentro e fora das zonas protegidas, comparando a abundância e a diversidade de espécies. Com a ajuda de tecnologia de telemetria acústica, a investigadora acompanha os movimentos dos peixes em tempo real. Na Jobshop mostrou dois objetos chave da sua investigação: um transmissor acústico, que é implantado nos peixes, e uma boia com recetor, que capta os sinais e permite mapear o espaço por onde os animais se movimentam.
Este trabalho permite avaliar se as AMP estão bem desenhadas - se têm o tamanho e localização certos para proteger as espécies - e entender como os peixes realmente utilizam o espaço marinho. Para Filipa, o envolvimento dos pescadores é essencial: "É muito importante termos a colaboração e estarmos em constante comunicação com os pescadores". Só assim se poderá ter a aceitação e compreensão das medidas de gestão que venham a ser adotadas.
Texto por Vera Sequeira