Como estão as alterações climáticas a afetar o Mexilhão-de-rio?

Foi recentemente publicado na revista científica diversity, o artigo científico "Conservation Challenges Imposed by Evolutionary History and Habitat Suitability Shifts of Endangered Freshwater Mussels Under a Global Climate Change Scenario". Este artigo tem como investigador principal Joaquim Reis, contando ainda com a colaboração dos investigadores do MARE, Silvia Perea, Mafalda Gama, Sofia L. Mendes, Cristina Lima, Filipe Banha, Maria Gil, Maria Garcia Alvarez, Pedro Anastácio e Carla Sousa Santos, e é fruto do projeto MUSSELFLOW.

Este artigo diz respeito à avaliação da vulnerabilidade do mexilhão-de-rio às alterações climáticas, através do estudo da sua genética populacional e história evolutiva, da adequação do seu habitat atual e futuro, e do habitat dos seus hospedeiros. Os mexilhões de água doce são animais invertebrados extremamente ameaçados a nível mundial, e a espécie estudada, Unio tumidiformis, apresentada uma distribuição restrita ao sul da Península Ibérica, sendo endémica desta região.. Estes animais, que vivem em cursos de água temporários do mediterrâneo, necessitam ainda de um peixe enquanto hospedeiro, para uma transformação larvar bem sucedida.

No estudo, a estrutura e a diversidade genética da população do mexilhão foram avaliadas, e mostrou que, a maioria das populações apresenta uma diferenciação genética extrema, mesmo em populações vizinhas próximas, enquanto que as populações do Alto Guadiana eram mais diversas e menos diferenciadas. Isto sugere que, U. tumidiformis se originou no Alto Guadiana e seguiu as mesmas rotas que os seus hospedeiros. Para além disso,  os resultados obtidos nesta investigação previram, na Península Ibérica, uma redução de 99% até 2040, das áreas climaticamente adequadas para  espécie, e uma redução de 42% para os seus peixes hospedeiros até ao final do século.

Assim, este estudo sugere que são necessárias medidas de conservação difíceis, dando prioridade à preservação das populações, à translocação para a zona norte da sua área de distribuição histórica, e à engenharia dos cursos de água para uma maior resiliência à seca.

Enquanto esforço de conservação, o investigador do MARE Joaquim Reis, integra agora o projeto PRTR-ESMOLINCO (ESpecies de MOLuscos e INvertebrados COsteros), coordenado pela Fundación Euskoiker (no País Basco), Sociedade Espanhola de Malacologia e TRAGSATEC. Este projeto desenvolve-se no âmbito do Plano de Recuperação, Transformação e Resiliência Espanhol, inserido no projecto mais amplo “Fauna terrestre y aves marinas (especies autóctonas y exóticas invasoras): mejora de conocimiento del estado de conservación” coordenado directamente pelo Ministerio para la Transición Ecológica y el Reto Demográfico (MITECO). Joaquim Reis é coordenador para a espécie Unio tumidiformis, que em Espanha ocorre nas bacias do Guadiana, Guadalquivir e algumas bacias menores independentes da Andaluzia.

 

 

     

  Fotografias disponibilizadas por Joaquim Reis. Conchas de mexilhões mortos em época seca na ribeira do Vascão (à esquerda). Leito seco de da ribeira de S. Pedro (à direita)

 

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